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novembro

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O Milagre Brasileiro

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Há muitos anos, quando ainda era tempo da revolução de 64, pairava no ar, repetidamente, a expressão “O Milagre Brasileiro”, e isto era quase que um mantra a respeito do crescimento do país.

Naquela época, eu vi uma entrevista de um ministro do governo para um jornalista internacional e ao ser perguntado sobre como o Brasil conseguia ter destaque na economia mundial, sendo que ainda possuía muita miséria (desde aquele tempo!)  o ministro respondeu; “Este é o milagre brasileiro”.

— Leia também: A mesa magra de uns e o dinheiro gordo de outros

Uma resposta evasiva que nada dizia. Horrorosa de fato. Confesso que, há 50 anos, ri e dei pouquíssima importância a esta resposta, aliás, fui até mesmo um dos críticos do ministro, quando eu ainda frequentava os bancos universitários.

Hoje, porém, já na idade longeva da vida, devo confessar que, sem o saber, o ministro de então fez uma pilhéria infeliz que hoje é importantíssima, pois sua significação é mais que real. De fato, existia e existe, um milagre brasileiro, afinal, aqui as desgraças ainda ocorrem e atingem sempre os mais frágeis.

Falo isso porque em todas as catástrofes, Brumadinho entre elas, e mais, nas enchentes ocorridas na Bahia, em Minas Gerais, São Paulo e recentemente no Rio de Janeiro, o que se tem visto é realmente o tal milagre brasileiro.

A resiliência de nosso povo é ilimitada. Petrópolis, por exemplo, já havia sofrido o mesmo drama há anos e tudo se repetiu, ocorreu conforme já havia ocorrido. Aliás, o Brasil é o país onde se ouve o ouvido, se vê o visto, se fala o falado e nunca se vê o que deveria ser feito.

Nestes momentos, nosso povo lamenta suas perdas, materiais e principalmente humanas, mas se dispõe a começar de novo, num ciclo eterno de sofrimento e esperança que somente por milagre é possível compreender.

Ademais, nosso povo se junta em momentos desta natureza. Doações vindas de todos os rincões da Pátria, dos mais variados tipos: alimentos, material de higiene e limpeza, água potável, roupas, sapatos, além das mãos de voluntários quem cavam no lamaçal sem equipamento algum na busca de parentes, amigos, ou simplesmente brasileiros como eles.

Isto é de fato um milagre brasileiro. Não aquele milagre inexplicável, vindo do além, diretamente do criador. É um milagre humano de identidade com os que sofrem porque esta tem sido a sina de muita gente simples e necessitada neste país: recomeçar sem perder as esperanças.

Creio até mesmo que seja por isso que muitos políticos não se importem como deveriam com povo brasileiro, afinal, nas desgraças, nas dificuldades, esta gente cristã, abençoada pelo Cruzeiro do Sul, mostra seu valor e se doa, com seu suor, buscando o que seria de direito receber dos governos existentes.

Na nossa bandeira, adotada pela primeira vez em 19 de novembro de 1889, quatro dias depois da proclamação da República, está escrito “Ordem e Progresso”. Creio que brasileiros de bem tem buscado isso desde Deodoro da Fonseca.

Mas poderia estar escrito outra coisa, como “Força na Dor”, “Sozinhos e Firmes”, “Sem Grana, mas vai mesmo assim”, seja como for, há inúmeras frases, todas referenciadas ao que, de fato, o brasileiro e a brasileira são. Quem sabe a frase “O País do Milagre” fosse mesmo a mais pertinente.

Porque só por milagre realmente é que a vida por aqui continua firme e a esperança de um melhor amanhã sempre habita o coração deste povo verde e amarelo, que sabe recomeçar resiliente, a cada desgraça de forma verdadeiramente “varonil” (ah, se você é dos que canta o Hino à Bandeira, mas não sabe o significado, aqui vai: varonil é ser viril, forte, potente).

E essa potência vem do coração e das mãos generosas do nosso povo, quando por solidariedade e humanismo, damos o nosso melhor pela nossa gente, mesmo que o Planalto negue absorvente feminino para a higiene da mulher pobre, mas varonil deste país.

Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante

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