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A responsabilidade política na tragédia do Rio Grande do Sul: como Guarujá poderia enfrentar inundações semelhantes?

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Nas últimas semanas, as enchentes causadas pelas fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul viraram manchetes em noticiários nacionais e internacionais. A força da água destruiu casas, vitimou pessoas e animais, além de desabrigar milhares de pessoas em uma velocidade muito maior do que o esperado. Na opinião de 70% dos brasileiros, segundo pesquisa organizada pela Genial/Quaest, a catástrofe no RS poderia ser evitada por ações governamentais e municipais. Nesta mesma pesquisa, 58% da população reconhece que as alterações climáticas foram motivadas por intervenções humanas.

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Para se traçar um plano de contingência ou prevenção a esse tipo de desastre ambiental é necessário conhecer os diversos fatores que impactam o meio ambiente. No caso do RS, uma combinação de frentes frias vindas do extremo sul do nosso planeta, com uma massa de ar quente e de alta pressão no centro do país, fez com que as chuvas se concentrassem no estado gaúcho. Somando o clima com a geografia do estado, que é cortado por rios que desembocam no lago Guaíba, que margeia a capital do estado, Porto Alegre, o desastre era esperado.

Se tratando de Porto Alegre, o descaso fica ainda mais escancarado. Um sistema antienchentes criado na década de 1970 com 14 comportas e 23 bombas de sucção não foi suficiente para proteger os cidadãos. O motivo? Cinco décadas de descaso com falta de manutenção e poucos investimentos fez com que o sistema não funcionasse na hora mais necessária. O lago Guaíba tem uma profundidade de 3 metros que ao ser ultrapassada, transborda para dentro da capital. Este lago atingiu 5,5 metros, o que significa ao menos 2,5 metros de inundação.

Graças à ciência, podemos projetar este tipo de situação em diversas outras regiões. Com isso, ganhamos tempo e podemos estudar as diversas estratégias de combate às inundações. Uma ferramenta poderosa foi desenvolvida pela Climate Central, um grupo de cientistas e comunicadores que pesquisam e reportam fatos sobre as mudanças climáticas e como estas afetam a vida a população. Com tal ferramenta, podemos projetar a elevação de águas em alguns mapas e, assim, visualizar as regiões potencialmente afetadas com enchentes, inundações ou com a elevação do nível do mar.

Com base na elevação de 2,5m que causou a inundação em Porto Alegre, projetamos este mesmo nível de água em Guarujá, e o resultado não é novidade para ninguém. O mapa mostra, em vermelho, as regiões que ficariam debaixo d’água: bairros como Vila Lygia, Santa Rosa, Santo Antônio, Santa Cruz dos Navegantes, Jardim Conceiçãozinha, Jardim Boa Esperança, Jardim Progresso, Itapema, a região da base aérea/aeroporto, Morrinhos, Vila Edna, Vila Selma, Cachoeira, Vila Santa Clara e Perequê seriam completamente inundados. Estes locais sofrem cronicamente com enchentes e alagamentos a muitos anos, porém a situação seria calamitosa com 2,5m de inundação. Para que situações como a do RS não se repitam aqui em Guarujá, urge a necessidade do governo municipal de olhar para essas regiões com cuidado.

Francisco de Menezes Cavalcante Sassi é bacharel em Ciências Biológicas com ênfase em Conservação da Biodiversidade pela Universidade Federal de Viçosa, Mestre e candidato ao Doutorado em Genética Evolutiva e Biologia Molecular pela Universidade Federal de São Carlos.

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