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Quem são os culpados?

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Agora, depois da comoção instalada no RS, inicia-se um “Brain Storm” para descobrir quem são os culpados. E a caça às bruxas vai começar.

Ninguém, de sã consciência, acha que, se não havia como evitar chuvas e alagamentos, pelo menos eles poderiam ser amenizados. O volume das desgraças é muito grande para que o ser humano não tenha culpa em parte na tragédia.

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Admitir nossa impossibilidade em de agir, alegando que é o “Armagedon”, o final de tudo, a volta do Senhor, a condenação de pecadores, a ira de Deus enfim, é uma postura bem ao sabor das teorias insanas daquela fé fanática. É uma maneira esdrúxula de justificar a imperícia, a omissão, o descaso e isto é imperdoável.

Na verdade, começando pelo começo: havia um planejamento pronto para eventuais catástrofes? Se havia, por que não foram implementadas as medidas em tempo hábil? Se não havia, quem não planejou?
Os parcos recursos existentes foram usados? Como fica o caso das comportas que não foram acionadas por falta de manutenção? De quem era a obrigação, da prefeitura, do estado, da união?

Questões desta natureza, agora que as águas estão mais calmas um pouco, embora continue causando perigos, é neste momento que a “ficha definitivamente cai” e o temor do amanhã bater no coração e na mente dos sacrificados, aumentado o desespero.

A narrativa sobre como teria sido possível evitar parte a tragédia, precisa ser trazida a público para se ver até onde os responsáveis deverão arcar com a culpa e apresentar soluções para o futuro de tantas pessoas.

A tarefa não será fácil, afinal a perda enorme das indústrias, do comércio, bancos, gerou um caos gigante no estado todo. Afinal foram atingidas 467 das 497 cidades no RS, o estado poderá existir como antes?

Num depoimento emocionado, um empresário disse que o estado havia acabado. Cidades inteiras teriam que mudar de lugar, e para onde iriam, afinal algumas possuem milhares de habitantes. Ao todo, mais de 2,4 milhões de pessoas foram afetadas.

O custo é impossível de ser mensurado agora. Talvez as obras necessárias, como a reforma das comportas, o aumento de bombas para retirar água e devolvê-la ao Guaíba, e outras medidas simples, possam ter seu valor orçado, mas os demais prejuízos são impossíveis saber.

Para se ter uma ideia, foram mais ou menos 200 mil carros estragados, mil deles nos pátios das montadoras, portanto, carros zero. Pelos estudos atuais, só com veículos motorizados, o prejuízo é de 8 bilhões de reais.

E o prejuízo das indústrias, dos bancos, dos shoppings? Outra questão que será difícil equacionar: as casas perdidas. Por mais que o governo pense em arrumar casas para quem perdeu a sua, qual será a dimensão, os materiais das novas casas?

Algumas tinham três quartos, outras dois, com sala cozinha, etc. O que se está pensando fazer é oferecer uma casa pequena, modesta para as pessoas terem um abrigo. É correto, mas será que é isso que querem os que perderam sua casa, inclusive as de alto padrão?

E os empregos, onde buscar? Enquanto se reconstrói tudo, quem paga a alimentação, onde dormir, onde trabalhar, e os móveis e eletrodomésticos?

O governo tem falado em seis meses para solucionar os problemas. Creio que as disputas judiciárias serão muito maiores exigindo um tempo maior para as soluções definitivas. É pena.

Sem contar a saúde. Antes da enchente, a leptospirose apresentava cinco casos por mês no estado. Agora são mais de sessenta. Os moradores ainda não voltaram para suas moradias abandonadas, ou perdidas. Quando pisarem no barro e no resto da água, quem for poderá aumentar anda mais a taxa das doenças.
Sinceramente, o que está sendo imposto ao povo gaúcho é um sofrimento sem precedentes em nossa pátria, superior talvez a uma guerra.

‘Flagelos naturais precisam ser antecipados, de modo a serem contornados o máximo possível, afinal, os desastres são muito grandes e impossíveis de serem vencidos.

A luta entre a natureza o homem é uma luta perdida para nós. A natureza é potente demais. Contudo, se temos inteligência é para sabermos usá-la e temos criatividade para antecipar os malefícios.
E isto não foi feito. Haveria, sim, estragos, mas não tantos.

Agora, junto do choro pelo ontem e o estresse do hoje, há o medo do amanhã. Um povo, fragilizado, oprimido que não merecia isso, ninguém merece.

Talvez este seja o maior teste que nosso país tenha que enfrentar, onde a capacidade da nossa ciência, engenharia, política (?), saúde e, sobretudo, a administração pública devem mostrar sua maturidade e reconstruir o Rio Grande do Sul.

Os homens erraram; a natureza cobrou a fatura. Seremos capazes de pagar a conta?

Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante cristão.

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