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A tortura psicológica dói tanto quanto a física

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*Roberto Sassi (in memorium)

Participei, sim, de atos contra a ditadura implantada no Brasil a partir de 1964. Mais, até, do que os relatados nos documentos então ‘secretos’ do aparelho repressor.

Sofri, como muitos, tortura psicológica, insinuações veladas, ‘convocações’ para explicar participação nos referidos atos, inclusive nos quais não estive presente como a missa do assassinato do jornalista Vladimir Herzog.

Não compareci à missa por falta de recursos e mais ainda, por necessidade de cumprir a atividade profissional de jornalista, em Santos (SP). Lamento minha ausência até os dias atuais.

A tortura – não necessariamente física, certamente é mais gritante e assim foi.

Mais de uma vez fui convocado a comparecer ao quartel do então 2º. Batalhão de Caçadores, unidade do Exército, em São Vicente (SP). O ‘convite’ era feito por meio da presença de militares ocupantes de um veículo do Exército, causando não somente apreensão entre os colegas de trabalho, quanto aos vizinhos da redação do jornal.

Nada, entretanto, impediu o exercício de minha profissão, por não misturar as coisas: o trabalho de repórter com as convicções, a certeza de que a ditadura de 64 era ato contra a democracia.

Participei, sim, de passeatas, reuniões e outros atos contra a ditadura. Em Santos, principalmente. Tive atuação em movimentos estudantis, fui diretor da Associação dos Universitários da Baixada Santista, criada para resistir à ditadura militar.

Fiz, junto com outros universitários, vigília em pátio de faculdade – Filosofia e Letras da atual UniSantos, vigília cercada por veículos militares e de órgãos da repressão, como o DOPS.

No mínimo ridículo um dos trechos da ‘investigação’ sobre a minha pessoa – e enquanto jornalista, ao publicar notícias a respeito de uma promoção feita por empresa de eventos, que outorgava a autoridades, empresários e profissionais um troféu, o ‘Robalo de Ouro’. Nada mais fiz do que divulgar o evento, comum em qualquer veículo de comunicação. Ou não?

Ao discordar da chamada ‘luta armada’ ou me negar a ingressar em partidos políticos, deixei de ser ‘ungido’ a postos mais relevantes no movimento estudantil da época. Não me arrependo.

Do Brasil da repressão, da tortura, dos assassinatos de centenas de bravos lutadores por dias melhores, por democracia, restaram aqueles que lutaram sem armas, mas com o coração.

*Roberto Sassi, jornalista, investigado durante 10 anos pelos órgãos da repressão.

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