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Só Para Pensar – Sergio Trombelli

A implosão

Publicado

em

Sérgio Motti Trombelli

Pode ser que nada aconteça, mas, dependendo do desempenho de Pablo Marçal na eleição para a prefeitura de São Paulo, a direita vai acabar se dividindo no país. Assim como aconteceu com a esquerda em tempos idos.

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Ao todo, temos 29 partidos no Brasil (um número impensável em países mais desenvolvidos politicamente), agrupados num sem-número de critérios que tornam insana qualquer lógica classificatória.

Muitos não possuem um representante sequer no Senado, nas Câmaras Federal e Estadual, além de pouquíssimos vereadores e prefeitos, ou até nenhum.

Marçal, por conta de desajustes e jogadas de última hora, acabou sendo impelido ao PRTB, cuja representatividade é tão insignificante que nem mesmo teve direito ao tempo de televisão.

Isto não o impediu de veicular seu nome nas mídias sociais, cuja articulação por ele elaborada, dribla a legislação e expande seu nome através de uma gigantesca lista de seguidores.
Com inegável habilidade de comunicação, aliada a um comportamento debochado nos debates, fato inédito na política brasileira, conseguiu alçar um voo mais que surpreendente, chegando mesmo, em alguns institutos, estar liderando a corrida eleitoral.

Contudo, a sua imagem vem se desgastando, justamente pelo seu jeito nos debates – grandes sacadas, grandes críticas, acusações, só que noves fora, nada – faltam propostas reais. Isto vai obrigá-lo a uma mudança de estratégia, a qual, a esta altura do pleito, se de fato der certo, poderá levá-lo ao segundo turno no mínimo. Dependendo das suas propostas para a cidade de São Paulo.

E aqui está a questão. Porque nada passa desapercebido aos olhos “inocentes” dos políticos, cuja visão nunca deixa de ser de largo espectro e de longa duração. A manifestação bolsonarista ocorrida em 7 de setembro, esteve longe de ser como outras na Av. Paulista em São Paulo, mas mesmo assim foi representativa.

O que não se viu no desfile em Brasília, com um público muito pequeno, além de um presidente cabisbaixo e solitário. A esposa Janja, devido a compromissos (?), também não esteve presente, deixando o mandatário da nação postado solitariamente no palanque. Um retrato desastroso que ficará registrado para sempre.

Mas, voltemos a Pablo Marçal. Sua representatividade no pleito eleitoral obrigou que, pelos seus adversários da direita, fosse estrategicamente iniciado um distanciamento de Bolsonaro.

Ao impedir que Marçal subisse no carro alegórico, Bolsonaro fez juma escolha temerária. Já se fala por aqui e ali que Marçal roubou o bolsonarismo de Bolsonaro. Uma forma de analisar o fato em que o criador pode estar engolindo a criatura.

A situação pós-eleitoral de 2022, quando o ex-presidente figurava como um não candidato em 2026, por conta da Justiça Eleitoral, parece ter esmaecido. Muitos juristas falam que ele recuperará o direito à candidatura. É algo para se esperar para ver.

Contudo, a liderança de Bolsonaro que era inquestionável, vem sofrendo arranhões. Primeiro, com Tarciso – embora sempre se mantendo ético e fiel ao ex-presidente – mas que, à frente do estado de São Paulo, está realizando uma administração eficiente, cujos ecos alcançam todo o Brasil, o que mostrava Bolsonaro já ameaçado. Agora, se Marçal vencer, as coisas ficam difíceis para a unidade da direita.

Ademais, no pior dos cenários, se Marçal perder, mas se o volume de votos obtidos por ele for grande, haverá dificuldades para a disputa do governo do estado e do país nas próximas eleições.

Sabidamente costuma-se dizer que um candidato pode vencer bem – o melhor dos mundos; pode vencer mal – e daí, venceu; pode perder bem – é uma força latente, tal qual Bolsonaro é hoje; e, por fim, um candidato só não pode perder mal – porque aí, foi-se – como talvez veremos no fim do “suposto mito” Datena.

Pablo Marçal já se comprometeu, caso vença ou não vença, mostrar por conta própria, como seria sua ação como prefeito ou não, remodelando uma favela de São Paulo, como fosse um projeto piloto de sua atuação política – e ele tem poder econômico para isso.

E ele sabe que eleição é fila, e a fila anda. Por isso, Marçal não vai sair dela, dentro ou fora da prefeitura paulistana, afinal haverá outras eleições em 2026 e, aí…

Assim, os players do pleito futuro em 2026 estão na corrida a partir de agora. Politicamente, Marçal pode conquistar, mesmo, perdendo, uma nova legenda, e no caso de se manter no PRTB, seu objetivo será a liderança e reformulação do partido.

Aliás, a sigla tem um estigma eleitoral forte. Fernando Collor de Mello elegeu-se por ela. E justamente, pela falta de representatividade deste partido na Câmara e Senado, teve um impeachment decretado e votado.

Esta também será uma barreira a ser vencida por Marçal, pois, apesar dele falar constantemente que administração pública e privada serem a mesma coisa, não são! Tem sempre o Poder Legislativo e Judiciário no calcanhar do Executivo, por isso, quem vence precisa de bancada e se ele vencer com uma bancada fraca, poderemos esta frente a um “remake” do Collor 2.

Ufa! É muita bombinha interna daqui e dali que pode culminar numa grande implosão. A cidade de São Paulo está no centro da futura eleição para o governo do seu estado e a da presidência do país.

É muito peso e muita estratégia já e curso.

Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante cristão.

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