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Só para pensar: A grande lição das eleições

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Por Sérgio Motti Trombelli

Tudo na vida ensina. Em qualquer sociedade, existe uma educação formal, chamada sistemática, realizada nas instituições de ensino. Com isso, os cidadãos aprendem profissões, se instruem em seus campos de interesse e se preparam para o mercado de trabalho.

Contudo, existe uma outra forma de educação, informal, não sistematizada, que ocorre no cotidiano da vida. Seus ensinamentos não podem passar despercebidos, pois a voz de um povo está diretamente ligada aos fatos que ocorrem diariamente, mostrando o que as pessoas pensam, como agem e, sobretudo, o que valorizam.

»» Leia também: Só o que a vida te dá é teu

Esses valores são sinais que deveriam orientar aqueles que dirigem o poder público sobre os rumos a serem tomados. A eleição, provavelmente, é um dos – se não o maior – indicadores que devemos observar. Ela expressa o anseio, a visão, a aprovação, o desagrado, a idolatria por certos líderes e até os benefícios que o povo recebe em troca do voto, revelando em quem ele deixou de acreditar e os motivos para isso.

Um fato neste último pleito não pode passar em branco. Ele ocorreu não só nos estados mais ricos ou nas capitais, mas até nos locais mais pobres, em cidades maiores e menores onde houve segundo turno. Enfim, pontuou em todo o Brasil de maneira similar: a abstenção foi imensa.

Em alguns casos, a abstenção foi maior que o número de votos para os próprios candidatos. E isso é sintomático. A política brasileira está doente, e essa comorbidade é grave. O descaso pelo processo eleitoral manifestado pelos eleitores é uma mostra do descrédito com a política brasileira.

O crítico, historiador e sociólogo paulista Sérgio Buarque de Holanda, um dos maiores intelectuais brasileiros do século XX, escreveu obras fundamentais, entre as quais se destaca a ideia do “homem cordial”, apresentada em Raízes do Brasil (1936). Ele analisa o brasileiro e o considera cordial.

Somos pacíficos por índole hereditária. Por isso, nestas eleições, o eleitor olhou para o passado e o reprovou de maneira até elegante, abstevendo-se em grande número. Em outros países, o povo vai às ruas, pega em armas, mas o brasileiro não. Nosso povo, chamado de cordial, deixou de votar numa proporção recorde, de forma elegante e silenciosa.

Mas essa lição é triste. Se a política brasileira está doente, os políticos, principalmente em Brasília, deveriam ser os terapeutas indicados para a cura. Mas não. Muito provavelmente, eles são a causa da doença.

Enganam-se aqueles que imaginavam que o povo tem memória curta. Questões como o orçamento secreto, verbas para deputados sem controle, excesso de assessores sobrecarregando o governo e as dúvidas sobre o STF predominam nas manchetes dos jornais.

Essa visibilidade exagerada impregnou a imprensa de tal maneira que todos os brasileiros conhecem a rotina do Congresso. E é justamente ali que grande parte dos problemas se concentra. Notícia boa não dá manchete, não atrai atenção. Assim, o que chega ao público é o pior do pior.

Com isso, um sentimento de desânimo afeta o brasileiro. Chega de acreditar, de imaginar que isso possa mudar do jeito em que se encontra. Basta ver como deputados e senadores legislam a seu favor.

No entanto, a abstenção reforça o status quo. Em outras palavras, quando o povo não participa, tudo fica como está, e o que está aí é ruim.

Esse círculo vicioso, jamais interrompido, parece uma estratégia elaborada para que se chegue ao impasse da impossibilidade de continuação. E aí, o que será de um povo que, cordial por natureza, acostumou-se a aceitar tudo com paciência e resignação?

Temo colocar aqui minha opinião. Que cada um formule a sua.

Sérgio Motti Trombelli é professor universitário e palestrante cristão.

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