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A absurda temperatura alta da campanha

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Mal começaram as propagandas de TV do segundo turno das eleições e a temperatura subiu a ponto de alcançar níveis de ofensas que raramente se poderia imaginar. E o mais triste, tem faltado conteúdo, significação, ideias, enfim, fica faltando a política de alto nível.

Desde pinguço viciado na cachaça, até antropófago que seria capaz de comer carne humana, são discursos usados para se analisar e avaliar o adversário tanto nas redes sociais como na TV.

— Leia também: Lá foi o primeiro tempo, agora vem o segundo

André Janones pelo PT e Nikolas Ferreira pelo PL, estrelas das redes sociais de cada um dos candidatos, optaram para trabalhar abaixo da linha da cintura, sempre na busca não de mostrar o valor de seu candidato, mas de buscar a rejeição de seu oponente.

Isto é campanha que se apresente? Como diria um antigo narrador de futebol na TV “Pelas barbas do profeta!”

Curioso é que o mais importante, isto é, dizer ao povo como cada qual que se habilita ao cargo maior do país, a Presidência –, vai fazer para acabar com o desemprego, a falta de moradia, segurança, analfabetismo, a fome do brasileiro, enfim, as coisas que são relevantes não entram na pauta das promessas.

No fundo, cada um mostra que o outro é pior em vez de mostrar o seu valor, assim a máxima da campanha pode ser entendida como “vote no menos ruim”. Só que votando no ‘menos ruim’ as coisas não chegarão a ser boas, nunca. E aí, com o ficamos nós?

Já disse aqui, em outra matéria, que existem duas maneiras de se ficar por cima numa contenda eleitoral. Uma é subindo pelos seus próprios méritos, o que seria ideal; outra é diminuindo o mérito do adversário, o que faria o detrator não subir, apenas colocaria o adversário abaixo dele.

Neste sentido, a campanha para o governo do estado de São Paulo parece estar bem melhor em termos de projetos do que a campanha presidencial. Os dois candidatos a governador de São Paulo se apresentam com soluções lúcidas sobre como promover o desenvolvimento do mais importante estado da nação.

E olha, são condutas que vão desde o desenvolvimento urbano com moradias, segurança, transporte até a melhoria de vida da população com a abertura de vagas de trabalho, mais renda aos que precisam de emprego e melhoria na saúde pública, mais educação, cultura, afinal o que aí está anda mal em demasia.

Enquanto na disputa da presidência se adentra uma insensata guerra religiosa, e nas redes sociais um é chamado de amigo do demônio, e o outro de ter parte com o diabo, que igrejas serão fechadas e tantas outras sandices, a lucidez fica por parte dos candidatos ao governo estadual, cuja preocupação é o ser humano e a família paulista.

Política é coisa absolutamente séria e esta forma de pensar vem desde os antigos gregos, bem antes de Cristo. Aristóteles disse certa vez que “o homem é um ser político por natureza”, e com isso nos alertou desde aquela data que por obrigação todos temos necessidade de viver em sociedade e que precisamos desse convívio. E, por reconhecer essa necessidade, cada cidadão deve se responsabilizar pela Polis (a sua cidade) dando sempre o melhor de si mesmo.

Assim, não é no escárnio do adversário, na maledicência alheia que a sociedade vai crescer, e alcançar o bem público para todos, mas na justa medida da boa conduta e trabalho dos seus governantes que colocam o nosso estado no mais alto patamar que ele merece estar.

Por isso, é lastimável e desanimador, num final de processo político, ter que descobrir como homens pequenos podem ser capazes de alcançar os grandes valores que o brasileiro precisa. Que Deus nos ajude!

Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante

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