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Alfabetização política de adultos?
Eis que lá em Brasília, não sei quem, nem quando, nem como, alguém “descobriu”, ou “inventou”, seja o que for, valer muito a pena ensinar democracia para os baderneiros de 8 de janeiro. Vão, conforme informado pelas más línguas, criar um curso para doutrinar todos os mil indiciados no quebra-quebra na Praça dos Três Poderes.
Claro está que, como o fato é inusitado mundialmente, vai dar mídia. Então os professores não serão aqueles habituais que enfrentam as salas de aula pelo país. Ao contrário, serão figurões, já que os holofotes estão iluminando a cena. Quem sabe até o nome de alguns mestres possa ter destaque em Nova Iorque como ocorreu com nosso presidente.
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Ora, a educação luta com as dificuldades costumeiras: falta investimento, melhoria dos salários dos professores, más acomodações de alunos, falta de equipamentos, computadores, etc, etc, etc…
Mas grana tem para estes cursos. Claro está que o dinheiro a ser gasto pouco influiria se fosse aplicado na Educação, porque o projeto terá custo baixo perto das necessidades da educação nacional.
Mas não é isso. É a cultura que importa. Quer dizer, aquilo que a escola não faz porque não consegue, embora alunos, pais e professores queiram, o governo executa por uma questão de marketing político, a fim de demonstrar que aqui, nesta terra tupiniquim, somos avançados por demais, vejam “estamos educando politicamente nosso povo”.
É uma afronta a todos que estão militando ou vivendo a educação deste país. Uma mentira que se perfumou de verdade, ou de bondade ou de preocupação, ou sei lá o quê.
Tudo continua como antes. Nada tem mudado na política do Planalto Central. A troca de cargos por votos permanece, pessoas comprometidas politicamente ganham pasta em ministérios os quais nada têm a ver com a sua vocação profissional. Enfim, “nada de novo há no front”.
Anos atrás, quando ainda militávamos na política, dei um projeto a um deputado federal para a inclusão de uma disciplina no currículo escolar do segundo grau à época chamada “Iniciação à política e ação comunitária”.
A finalidade era exatamente essa, demonstrar a importância da política sadia e como o jovem poderia participar em prol, da comunidade. Não houve resposta, afinal os políticos não têm interesse em que o povo seja educado politicamente.
Contudo, agora, quando precisamos fingir uma “maioridade política”, tentamos alfabetizar politicamente adultos indiciados e em julgamento por atos de vandalismo em nome de uma pretensa democracia.
Não é uma inversão de conduta inútil?
Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante
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