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Artigo Por que um feriado da elite e não um popular?
Zoel Garcia Siqueira*
Em 21 de abril de 1792, foi enforcado Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Foi o único condenado a pena de morte por participar de um movimento em que não se disparou um único tiro.
Sua luta foi organizada pela elite econômica da exploração de ouro em Minas Gerais. Tinha como principal objetivo o não pagamento dos impostos atrasados, a derrama, exigida pelo opressor governo português.
Duas perguntas. Primeira: Como um movimento teórico e elitista se torna feriado nacional, em um país com uma das maiores concentrações de renda do mundo atual?
Segunda: Como outros movimentos do passado, que pretendiam melhor distribuição de renda, com maior participação popular nas decisões e o fim da escravidão, não fazem parte do calendário oficial?
Podemos citar como exemplo a ‘conjuração baiana’, de 1798, também conhecida por ‘revolta dos alfaiates’, que pregava a independência e, mais ainda, o fim da escravidão.
Não devemos olhar o passado com os olhos do presente. O presente, porém, é resultado das ações do passado. Dito isso, fica mais fácil entender a dificuldade de encontrarmos uma melhor saída para os problemas sociais.
Em nossa história, não valorizamos movimentos que objetivavam discutir problemas sociais, mas sim problemas financeiros que acarretavam prejuízos à elite.
O feriado de Tiradentes passou a fazer parte do calendário em 1965, um ano após o golpe civil, midiático e militar que implantou no país um estado de exceção.
Esse golpe gerou um sistema político e econômico para combater os movimentos reivindicatórios das classes desfavorecidas e implantar políticas em benefícios de uma pequena camada da sociedade, a elite.
Qualquer pesquisa econômica dessa época mostra que o ‘milagre econômico’, tão propagado pelos defensores do regime, não veio com distribuição de renda.
Tanto que, no final da década de 1980, tínhamos um índice inflacionário gigantesco, um salário mínimo de miséria e uma grande concentração de renda que vigora até hoje.
Precisamos reescrever a história. Um país desigual socialmente, que apenas valoriza líderes históricos que perpetuaram a desigualdade, gera um grande obstáculo para a conscientização das gerações futuras.
Precisamos combater a raiz desse problema social imenso que é a desigualdade. E só se combate desigualdade com políticas públicas verdadeiras. A desigualdade é a mãe de todos os problemas sociais.
(*) Zoel Garcia Siqueira
é professor, formado em história com especialização em ciências sociais e atual presidente da diretoria executiva do Sindserv Guarujá
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