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novembro

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As crianças da guerra

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As cenas que tenho visto nesta injustificável guerra entre a Rússia e a Ucrânia, aliás, uma guerra surgida do nada porque é a vontade russa que está se impondo sobre um país menor que vivia em paz, são lamentáveis e cruéis.

Contudo o que mais me deixa indignado, sofrido, profundamente penalizado, são as imagens das crianças ucranianas, principalmente as pequenas, mas que precisam caminhar junto a seus pais na busca de proteção num país vizinho.

— Leia também: Ave Maria

Crianças de 6 a 10 anos, mais ou menos, não têm a sua capacidade física totalmente formada e muito esforço é penoso demais para elas. No entanto, estão sendo obrigadas a fazer nos êxodos que vem ocorrendo em busca de segurança.

Mas é no aspecto psicológico que a dor é maior, porque esta não passa com uma noite bem dormida ou com dois dias de descanso.

A psicologia infantil diz que crianças entre 6 ou 7 anos até 10, quem sabe 11, são as que mais sofrem com as atrocidades da guerra. Crianças começam a ter consciência do mundo nesta fase da vida.

Têm seus cantinhos nos lares, seus brinquedos, seus amigos, sua vida em comunidade e esta fase é de suma importância. Inclusive, muitas coisas ficam marcadas pela vida toda, porque parte da personalidade se sedimenta nesta fase da vida.

Nessa esteira, o comportamento da criança de 6 anos vai em direção a novas propensões, novos desejos e novos sentimentos. É uma verdadeira montanha de emoções. Chegando aos 7 anos, também chamada de “a primeira idade da razão”, ela começa a ficar mais atenta às relações de causa e consequência, menos egocêntrica e tem mais claras a noção do certo e de errado, do bem e do mal, da fantasia ou da mentira e sobretudo da injustiça, daquilo que não merecem.

Assim, o que imaginar na cabeça das crianças da Ucrânia? Sendo atacadas por um país para ao qual elas não fizeram nada de mal. Tendo muitas vezes de ver morrer prematuramente seus pais, ou sendo entregues a outras pessoas para continuarem a viver, mas sem ser sua família original.

Recentemente, fiquei profundamente penalizado ao ver a entrevista de uma menina de 13 anos, de olhar profundamente triste, ao ver seu mundo desabar. Sem amigos, sem companhia, e o mais instigante, ainda em sua casa com a mãe, lendo livros de autores russos como Dostoiévski na língua russa.

Não havia maldade, nem senso de vingança nela, apenas uma vontade de paz e a ânsia de descobrir o por quê disso tudo. E no final ela sorriu amargamente. E eu me lembrei de um poema que li ainda jovem que ao final dizia que se chora de alegria, também se ri de pesar. Foi este pesar injusto que a fez sorrir.

Fora isso, ver os pequeninos, com os rostos queimados pelo frio, alguns com seus bichinhos de pelúcia – a única coisa que restou das brincadeiras da infância num lar desfeito, o que entendem eles disso tudo, o que lhes passa pela cabeça?
Será que Putin não se sensibiliza com isso???

Crianças encapotadas por causa do frio imenso do inverno europeu, recentemente estava a – 19 graus, pisando no gelo numa caminhada infindável, muitas vezes sem comer regularmente.

Muito diferente dos filhos dos oligarcas russos, os quais tem seus filhos na segurança de outros países (Putin é um deles) com a abundância que o dinheiro pode proporcionar.

Dizem que o choro dos que sofrem nas injustiças recebidas não se confunde com o barulho das ruas, nem com os tiros de canhões e bombas. É um lamento que sai de dentro da alma, e somente os surdos, insensíveis, cruéis e sádicos não conseguem ouvir.

De fato, numa guerra, a dor existe para os que podem menos. Estes sempre sofrem mais, enquanto líderes, governantes, generais opressores discutem, confortavelmente, como achar uma estratégia de ampliar a matança.

PS. Dia 14, 2ª. feira, nasceu Verônica, filha de uma das mulheres grávidas que estavam na maternidade atacada por Putin. Tomara que a Ucrânia em que esta criança vai viver no futuro ( se conseguir sobreviver) possa ser melhor do que esta em que ela nasceu.

Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante

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