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Avareza Cognitiva: soluções rápidas para a “preguiça mental”
Toda semana, quando começo a pensar sobre o tema a ser abordado na coluna, busco trazer assuntos que possam levar para o público alguma reflexão – ou algum passatempo intelectivo mesmo rs.
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Recentemente, ouvi no Big Brother Brasil 24, durante a eliminação de um dos participantes do programa, o apresentador Tadeu Schmidt trazer em seu discurso o tema “avareza cognitiva”. Você já tinha ouvido falar nesse termo?
Você pode se perguntar: uma coluna que busca reflexão citando Big Brother Brasil? –hahaha… Vamos rir juntos. Mas, sim! Porém, não pense que a gente vai aqui analisar baixaria (ou puro entretenimento para milhares? Você escolhe!). Ou, ainda, se posicionar sobre as pessoas no programa. Vamos abordar o conceito e o que a literatura fala sobre ele.
Os psicólogos sociais americanos Susan Fiske e Shelley Taylor, dois dos mais influentes profissionais da atualidade, com seus insights pioneiros, propuseram pela primeira vez o conceito de avarento cognitivo no início da década de 80.
Eles definem avarentos cognitivos como “pessoas que têm uma capacidade limitada de processar informações, então pegam atalhos sempre que podem”. E a gente sabe onde vai dar esses atalhos: em pensamentos equivocados e estereotipados, preconceito e discriminação.
A gente até poderia resumir o termo em “preguiça de pensar”, mas a questão vai muito além. O médico mineiro Dr. Ramon Cosenza, doutor em ciências, aprofunda a questão em seu livro “Por que não somos racionais: como o cérebro faz escolhas e toma decisões”.
Se confortar com as próprias hipóteses é menos trabalhoso
Na prática, o avarento cognitivo tende a buscar, focar e favorecer informações que confirmem suas próprias crenças ou hipóteses. Dá valor excessivo a esses dados. Ignora os detalhes que podem contradizer suas ideias, simplesmente, porque avaliá-las implica um maior esforço mental.
Dia após dia somos colocados diante de inúmeros estímulos e, há tantas variáveis a considerar, que é compreensível nosso cérebro tomar atalhos e selecionar as informações que melhor se adequam às nossas crenças.
Contudo, esse tipo de “preguiça” tem consequências. E elas não são positivas, levando à estagnação ou ao foco em algo negativo. Também causa diminuição da nossa capacidade de avaliar corretamente os riscos.
Quando esquecemos dados importantes, que nos ajudam a entender como uma série de erros pode ter efeitos catastróficos, é menos provável que aprendamos alguma lição para o futuro.
Fechados na câmara de eco da nossa mente, construímos para nós mesmos um mundo sem clareza, em um sistema fechado a salvo de possíveis negações. O problema é que, em geral, quem não sabe nada sobre um assunto não tem nenhuma dúvida sobre ele. Isso pode ser usado para o bem ou para o mal. Em geral, superestimam sua habilidade de não serem persuadidas. Julgam que seriam capazes de resistir a uma
argumentação bem executada. (Fica a dica neste parêntese: tem eleições na área!).
A literatura ainda afirma que a avareza cognitiva desencadeia outro efeito consequente, o Dunning-Kruger. Este conceito seria mais ou menos assim: “quanto menos uma pessoa sabe sobre determinado assunto, mais ela acha que sabe”.
Imagine esse efeito funcionando sobre a própria existência da pessoa, que julga pensar por conta própria, fazer suas próprias escolhas e decidir seu próprio futuro. “Quanto mais ela se achar livre, menos livre ela será”, refere o conceito.
George Orwell entendeu muito bem esse princípio, e o descreveu brilhantemente nas obras “Revolução dos Bichos” e “1984”. Nelas, temos uma descrição detalhada das inúmeras técnicas de persuasão por meio da linguagem. Fica como recomendação de leitura da semana.
Afinal, como diz a personagem sabida Mafalda, de Quino, em um de seus quadrinhos mais conhecidos: “Viver sem ler é perigoso, te obriga a crer no que os outros dizem”. Afinal quem você quer ser na fila do pão? Aquele que sabe ou aquele que segue?
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