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Batalhas desnecessárias II
Então, como que num repeteco infeliz, o governo federal volta a insistir nas batalhas desnecessárias.
Há mais ou menos duas semanas abordei o assunto nesta coluna. Cheguei a pensar que estas bobagens do palácio estavam no fim, e eis que de repente o Sr. Ministro da Educação vem com uma batatada cujos resultados seriam mais uma derrota do planalto: proibir que os reitores das universidades federais exijam o atestado de vacinas de seus alunos.
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É lamentável que um ministro não saiba o que é constitucional ou não. Universidades têm autonomia, ademais, em tempo de pandemia, principalmente, a constituição faz por prevalecer a preservação da vida.
Não deu outra. O assunto foi judicializado e tornou-se mais uma derrota do governo.
Veja, não se trata de partidarismo a favor ou contra quem quer que seja. Mas qualquer presidente merece que seus ministros o orientem em vez de agradar o primeiro mandatário do país, causando desastres eleitorais em vez demostrar a ele um caminho melhor.
Vimos isso mais uma vez. O ministério da Saúde, embora perdendo na consulta para a vontade popular, foi obrigado a aceitar a vacinação das crianças. Na entrevista final, levantou dúvidas, não foi peremptório a favor da vacinação, e por quê?
Por que o presidente pensa assim e o seu grupo de apoio também. Dúvidas sobre a vacinação infantil é outra batalha perdida porque a maioria dos pais deste país quer a vacina.
Algumas considerações que justificam as afirmações acima:
– A direita no Brasil, como no mundo inteiro, tem seu público cativo da mesma forma que a esquerda.
– Ambas não são suficientes para ganhar uma eleição. Assim, o centro, que abriga muitos eleitores, é que interfere no processo eleitoral e faz as coais acontecerem. É uma máxima muito antiga de São Tomás de Aquino: “frente os extremos a virtude está no meio”, máxima que o povo brasileiro traduziu sabiamente como: “Nem oito , nem oitenta”.
– Os votos de Lula, quando eleito, precisaram do meio; da mesma forma, Bolsonaro. Este meio que é o sonho da terceira via – a qual não se solidificou até agora, é a fatia mais desejada do bolo eleitoral.
Justamente esta fatia é que tem trazido prejuízo eleitoral ao presidente. Vamos pensar um pouco, quais são os tipos de eleitores ?
Existem os fiéis. O voto convencido de direita ou de esquerda. Raramente miúdam suas in tenções e se constituem o chamado núcleo duro tanto dos esquerdistas como dos direitistas.
Contudo, temos outros eleitores. Alguns valem a pena ser registrados aqui. Os flutuantes, isto é, aqueles que vão de lá pra cá, e de cá pra lá, cuja intenção não está sacramentada; os eleitores de última hora, que nem aí estão para a vida política e na hora H seguem o rebanho da frente; os interesseiros, que se comprometem por conta de uma promessa do candidato, seja a criação de empregos, a casa própria, enfim, aquilo que mais lhe interessar. E muitos outros.
Assim, em outras palavras, não são os fiéis que elegem. Por causa disto, o interesse do governo e da oposição é justamente entender a vontade popular de centro e não somente os fiéis. Por isso, combater a vacina, proibir a exigência de atestados, o que põe em risco a maioria ou ainda, a dificuldade de vacinar crianças, são ações de burrice eleitoral.
Além de questões de Meio Ambiente, salários, entre outras, são batalhas desnecessárias, suicidas, e as pesquisas mostram isso. Agora nesta semana o próprio Presidente começa uma batalha de desqualificação da Anvisa. Para quê?
Vai ser mais uma batalha perdida que só está servindo para mostrar a seriedade da própria Anvisa e a capacidade de seu presidente, o médico e contra-almirante da Marinha, Barra Torres, aliás uma pessoa admirável.
POIS É, Marketing Político é coisa de profissional e pelo jeito, lá no Planalto, existem muitos amadores… ou puxas-sacos.
Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante
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