Guarujá em Foco
Cemitérios são alvos de furtos de placas e peças de bronze
O roubo de peças de bronze como placas, porta retratos e imagens nos jazigos e lápides dos três cemitérios municipais de Guarujá se tornaram comuns nos últimos anos; famílias fazem apelo por mais segurança e manutenção nos equipamentos; prefeitura promete novas contratações e licitação para implantar monitoramento
Karina Mingarelli
Da Reportagem
A criminalidade que vivemos atualmente afeta a vida cotidiana de todo cidadão em qualquer país, em todo o mundo. Aqui na Ilha de Santo Amaro, ela se mostra ainda mais virulenta ao afetar, também, a vida eterna. Uma falta de respeito à memória de famílias da cidade e à história da própria cidade.
Trata-se do roubo de peças de bronze nos cemitérios de Guarujá. Uma triste constatação da falta de segurança alimentada pela negligência do poder público a esses equipamentos. Negligência, sim, porque o problema vem de longa data. Há pelo menos 10 anos nossa reportagem já denunciava a prática e de lá pra cá, nada foi feito.
Basta entrar em qualquer uma das três necrópoles da cidade para constatar que a cada dia que passa, mais e mais lápides mostram as marcas das peças que foram levadas, sem que nenhuma pessoa fosse presa ou responsabilizada pelo furto.
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No cemitério da Saudade (Vila Julia), jazigos antigos, de famílias e personagens ilustres da história da cidade também sofrem com a ação criminosa e desrespeitosa. “É uma pena, porque além da saudade pelos que se foram, o cemitério também é um local para se lembrar, ele guarda a memória de uma época passada, de nossos antepassados”, disse com tristeza a professora Mariangela, de 72 anos, que estava visitando o túmulo do marido morto pela pandemia.
“Minha sogra foi enterrada aqui em 1958. Eu coloquei essa placa de acrílico no lugar há dois anos, mas já está na hora de trocar. Daqui a 30 anos ou mais, quem vai se lembrar dela, de nós?”, comentou com pesar.
Tristeza é mesmo o sentimento que aflora ao se ver tantas lápides sem nome, ou a marca de um vaso perdido ou restos de argamassa no formato de um crucifixo, de um porta-retratos, de uma placa. Um crime contra a dignidade do falecido, ou da memória afetiva de uma família.
A falta de segurança alterou o material das placas. “Perdi meu tio há três meses vítima de latrocínio, e vim trazer a placa acrílica pra gente identificar a gaveta. A falta das placas nos túmulos realmente chama a atenção quando passamos e fica aquele sentimento de insegurança. Na infância eu tinha medo de fantasma no cemitério, hoje tenho medo de ser vítima da violência até depois de morta”, contou à reportagem a balconista Eliana da Costa, moradora da Vila Julia.
Uma cuidadora de túmulos contou que algumas peças ainda permanecem porque são cuidadas. “A gente limpa tudo e coloca esse plástico nas placas. Os bandido sabem que a família cuida e às vezes isso ajuda. Mas aqueles que vão escurecendo com o tempo são os alvos preferidos. Outro dia levaram um crucifixo enorme, e ninguém viu. Como pode, né?”, questiona.
Negligência
O sentimento, conta Patrícia Lopes, “é de negligência total da Administração do Cemitério. De 2011 pra cá levaram oito placas da campa da minha família. Todas as vezes comunicamos e nada aconteceu”.
A reportagem questionou funcionários da manutenção dos cemitérios que trabalhavam no momento da visita sobre quais medidas haviam sido implantadas no local após os relatos dos roubos. A resposta de todos foi a mesma: “Não fizeram nada”.
Um dos trabalhadores disse que a Administração nem ligava mais quando alguma família fazia a reclamação. “Eles dizem que não podem fazer nada, que tem patrulhamento, mas os guardas são insuficientes, e que apesar da ronda, os bandidos são ousados. A verdade é que ninguém quer se arriscar. O último vigilante que tentou fazer alguma coisa, levou uma surra dos bandidos”, contou o funcionário que pediu para não ser identificado.
Manutenção das ruas também é um problema
A população sabe que algumas datas comemorativas como Finados e Dia das Mães costuma aumentar o fluxo de pessoas nos cemitérios para prestar homenagens aos entes falecidos, e nessa época, a manutenção é reforçada. Mas os cemitérios precisam de ação extra em outras épocas do ano.
No Cemitério da Consolação, em Vicente de Carvalho, andar pelas ruas do segundo setor (atrás das gavetas) é uma tarefa que oferece risco ao munícipe. Buracos, desníveis e muitas poças que formam lama e lodo dominam os caminhos.
“Em dias de chuva fica pior”, contou outra visitante. “Eles começam a fazer uma obra, a gente pensa: ‘agora vai ficar bonito’, mas eles fazem um trechinho e nunca mais terminam”, contou D. Belmira.
A reportagem também constatou que o acimentado que é colocado como remendo em alguns trechos viram armadilhas no próximo passo e um convite à queda. Sem contar o mato e trechos de solo ‘fofo’ ao lado dos túmulos. Enfim, um cenário de descuido e descaso em um equipamento que deveria ser de paz e reflexão.
Monitoramento está previsto
Em nota à redação, a Prefeitura de Guarujá informa que está finalizando o processo de licitação para instalar câmeras de monitoramento nos três cemitérios da Cidade (Vicente de Carvalho, Vila Júlia e Morrinhos) e no Serviço Funerário.
A nota ainda completa que até maio deve ser divulgado o resultado da licitação para contratação de vigias diurnos para atuar nos equipamentos. Enquanto isso, a Prefeitura mantém vigias noturnos e, diariamente, a Guarda Civil Municipal realiza patrulhamento nos três locais, como forma de coibir roubos e furtos.
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