Colunas
Coluna Coelhinhos e escravidão
Nesta semana comemoramos a Páscoa. Pouca gente, solapada pelas promoções de chocolates, entende que a Páscoa Cristã é uma das festividades mais importantes para o cristianismo, pois representa a ressurreição de Jesus Cristo, o filho de Deus.
A data é comemorada anualmente no primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorre no início da primavera (no Hemisfério Norte) e do outono (no Hemisfério Sul). Este ano será no dia 9 de abril.
A Ressurreição de Jesus lembra a sua primeira aparição entre seus discípulos. A Páscoa já era comemorada antes da época de Jesus Cristo, mas com outra significação. Tratava-se da comemoração do povo judeu por ter sido libertado da escravidão no Egito, que durou cerca de 400 anos.
Esta saída do Egito representava o fim da escravidão em busca de liberdade. Por isso que o termo hebraico “Pessach” significa saída, passagem, esperança, no sentido de superar a escravidão.
Claro que todos vamos comprar chocolates, ovos de páscoa e dar de presente aos familiares. Algumas entidades vão fazer campanha para doar ovinhos a crianças carentes, cuja família não pode comprar chocolates, mas mesmo havendo muitos voluntários, sempre há os que ficam sem nada.
Contudo, é o sentido maior da Páscoa, o “Pessach”, que me interessa neste artigo. Os judeus entenderam que era necessário superar a escravidão. E escravidão é a palavra que nos últimos dias mais ouvimos falar.
Em nosso país, ainda existem pessoas trabalhando em sistema de escravidão! Mesmo tendo se passado 134 anos da libertarão dos escravos em nosso país. A princesa Isabel deve estar se revirando no túmulo.
Se fosse só discurso, ninguém acreditaria, mas as provas foram mostradas e o esquema em que funcionários estavam escravizados nas organizações Aurora, famosa pelos vinhedos, apareceu em todos os jornais da imprensa escrita, falada e televisada, inclusive no estrangeiro.
Entretanto, meu caro amigo leitor, vamos fazer um raciocínio a mais. Obrigar um trabalhador suar a camisa pelo seu país por um salário mínimo mensal de R$ 1.212,00 é um tipo de escravidão, ou não é?
No nosso país, estamos o ano todo esperando pelo o “Pessach” judaico. E o mais triste de tudo isso é que esta escravidão é instituída pelo próprio governo que se sente honrado em oferecer a cada trabalhado a soma acima.
Por isso, a Páscoa deveria ser um momento de reflexão sobre a ressurreição de Jesus, mas também deveríamos refletir quanto estamos escravizando um ser humano a viver com R$ 40,00 por dia.
Imagine o que se compra com isso. Alimentos, passagens de ônibus, remédios, material de higiene. Um senhor, recentemente na TV, disse que toma banho três vezes por semana, não porque quer, mas porque fica mais barato.
Assim, celebremos a Páscoa cristã pelo amor que temos a Jesus e pelo que ele representa para nós. Mas seria de bom alvitre que lá no Planalto Central, se pensasse em acabar com esta escravidão compulsória imposta a nossa gente brasileira em vez de pensarmos em chocolate e coelhinhos num só dia do ano.
Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante
You must be logged in to post a comment Login