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Coluna Comunhão de bens
Há anos, quando comecei minha carreira no magistério, acabei sendo diretor de uma escola estadual em uma cidade pequenina de nosso estado. Vida simples, pessoas amigas, todos conheciam todos, enfim cidade típica de interior onde a beleza está na simplicidade do cotidiano. Gostei demais daquele tempo, ao qual lembro com saudade.
Uma só coisa destoava. A esposa do Juiz de Direito local costumava dizer “sou uma pessoa importante, meu marido é o Juiz de Direito”.
Este tipo de fala, de equivocada compreensão da importância, vemos nos filhos de empresário ricos, filhos de políticos em geral, já que todos se sentem importantes porque o pai, ou a mãe, o marido, ou a esposa são pessoas de alta representatividade política, econômica ou social, tanto numa região, quanto no país.
Exemplificando com um fato ocorrido na semana passada, a coroação de Charles, na Inglaterra. Vale ressaltar que o marido da rainha Elizabeth, que era o Príncipe de Gales (Príncipe), devia sempre andar dois passos atrás dela, de modo a caracterizar que a importância caía sobre ela e em ninguém mais, mesmo o marido.
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Pois bem, há duas semanas, Eliane Cantanhêde, jornalista e comentarista da Globo, cujo nome consta no Top 50 de Os Mais Admirados Jornalistas Brasileiros, “Prêmio Jornalista Roberto Marinho de Mérito Jornalístico”, no programa em pauta daquela emissora que vai ao ar todos os dia às 20 horas, fez uma duríssima crítica à primeira dama do país a Janja.
Lembrava ela que quem ganhou a eleição foi o Lula e não Janja, e que sua busca insistente por notoriedade não se coaduna com o comportamento de uma primeira dama. E é verdade. Aliás, com menos contundência do que Eliane, já comentei este assunto na coluna. E pensei que estivesse esgotado.
Contudo, um fato extremamente inadequado ocorreu e nos remete de volta ao assunto. A indicação do general Marcos Antônio Amaro Dos Santos para ser o novo chefe do Gabinete de Segurança Institucional, GSI, não foi do agrado de todos do PT.
Conforme notícias dos veículos de comunicação havia quem desejasse não um militar, mas um civil para o cargo. Essa era a vontade do Ministro da Justiça, Flávio Dino, e que Janja também desgostara da nomeação.
Ora, desde quando, esposas ou maridos de presidentes opinam em questões de estado? Será que já não basta a presença de Janja ocupando lugar na mesa ao lado do presidente e reuniões governamentais como palestras, cerimônias de posse, enfim, onde quer que o presidente vá como o representante do país, lá está ela sorrindo para câmaras, torcendo para ser entrevistada, falando com autoridade e a todo instante buscando os holofotes?
Diferentemente do príncipe Philip na Inglaterra. Apenas relembrando, quando da visita do Lula aos EU, Janja entrou na Casa Branca antes do presidente Biden que veio atrás dela e Lula ao final. Uma ordem de prioridade totalmente invertida de poder.
Isto não se coaduna com a postura da primeira dama que um país deve ter. E o porquê é simples, quem manda é o/a presidente, cujas decisões devem ser tomadas conjuntamente com seus ministros e assessores, e não de forma marital como se um casal estivesse comandando o país.
Em verdade, creio que Janja se confunde muito convenientemente. Casais se casam com comunhão de bens, onde se juntam móveis, valores, enfim tornam as coisas que eram individuais em coisas comuns.
Mas o país não é um bem do presidente, como se este fosse o detentor da posse daquele. É justamente o contrário, é o país que possui o presidente, porque este é quem deve prestar contas a seu povo, só ao povo.
Janja entendeu até agora que, com o casamento, Lula trouxe na bagagem, como se fora um casamento de comunhão de bens, seus louros políticos, os quais ela julga serem dela também, daí acreditar que tem o direito de opinar, comandar, escolher, influir naquilo que considera ser um bem comum: o cargo de presidente do Brasil.
E não é só. Com sua gana para conseguir os holofotes, ele avança na moda, na vestimenta que vem usando. Na recepção do Rei Charles, na fila dos convidados que iam adentrando ao palácio, seu vestido laranja era o único que destoava das demais roupas sóbrias das esposas das demais autoridades presentes.
No fundo, a sobriedade da falecida esposa de Lula se contrasta com o, por vezes, espalhafatoso jeito de ser e se vestir da primeira dama atual do país. Nem mesmo Michele Bolsonaro, cuja indiscutível beleza por si só já chamava a atenção, usou destes comportamentos.
Bem, temos novos tempos no Palácio do Planalto. Logo, logo – seria o máximo para ela – Janja poderá ditar modelinhos da moda, tal com Jaqueline Kenedy, e com isso, se universalizar. Caramba, será mesmo?
Sérgio Motti Trombelli
É professor universitário e palestrante
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