Coluna: Oportunidade e oportunismo

Há anos, ainda nos bancos universitários, ouvi uma palestra e o orador, ao saudar o homenageado, falou de sua história de vida e numa passagem da fala disse que o sucesso daquele ilustre personagem só foi possível porque “este era o país das oportunidades”, isto é, os merecedores conquistavam as oportunidades de vitória porque no Brasil isso era possível.

Pois bem, o tempo passou, e hoje, depois de quase 50 anos, olho para meu país e fico me perguntando, se este é ainda o país das oportunidades. E, lamentavelmente, concluo que duvido muito.

O Brasil está mais para o oportunismo do que para a oportunidade. Esta é fruto do mérito e aquele, da malandragem. E veja bem, a malandragem está tendo preferência em toda parte.
Recentemente, numa matéria sobre o preço de frutas e legumes em uma feira livre, o feirante, que colocava seus produtos num plástico e os vendia em pacotes, disse que os preços haviam subido demais.

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Ao ser indagado como fazia para enfrentar a crise, ele disse que diminuiu o tamanho do saquinho, e manteve o preço. Os consumidores não perceberam, assim, ele vendia pelo mesmo preço, aquilo que entregava de menos.

Meu leitor amigo, preste atenção para pequenas coisas do cotidiano e veja como isto ocorre a todo instante. O tamanho dos chocolates em barra, cada vez é menor e o valor, o mesmo. Ninguém presta atenção no peso do produto, apenas na embalagem. Tubinhos de bala de goma, eram 12 jujubas em cada, hoje são 8, e o tamanho delas diminuiu, mas o preço é o mesmo.

As pizzarias passaram a trabalhar com ingredientes piores e a muçarela hoje não tem o mesmo sabor; gilete de barba faz cada vez menos barba, a qualidade das lâminas ficou pior. E os preços, os mesmos.

Durante a pandemia as escolas e faculdades particulares mantiveram a mensalidade, mas não deram aulas presenciais. Gastaram menos luz, água, material de limpeza, segurança, ganharam bem mais e entregaram menos.

Até os planos de saúde na pandemia. Com a diminuição de consultas por conta dos lockdown, e a diminuição das cirurgias eletivas, eles tiveram lucro, afinal, houve menos gastos por parte dos usuários, e as mensalidades não tiveram nenhum desconto.

Os mais espertos são os postos de gasolina. Quando a gasolina sobe eles repassam o valor, embora o tanque do posto esteja cheio de combustível comprado por um preço antigo, mas quando abaixa o preço, eles mantêm o valor alto de antes até acabar o líquido existente.

Enfim, todos ganham, mas não pelo merecimento da oportunidade de servir, negociar, vender, e sim pela malandragem do oportunismo na busca de mais lucro (indevido).

Por fim, onde mais vemos este contraponto entre oportunidade e oportunismo, é onde menos deveríamos ver: na política. Político eleito deveria primar pelo mérito e aproveitar a oportunidade de servir à população que o elegeu, pois esta sim, é a verdadeira dona dos votos.
Contudo, a esperança digitada na maquininha no dia da eleição, se esvai nas primeiras ações do eleito quando se vê que a oportunidade de servir ao eleitor dá lugar ao oportunismo de servir a si próprio. As reais necessidades da maioria sempre acabam perdendo para os interesses da minoria.

Claro que há políticos mais nobres que aproveitam a oportunidade de servir. São os verdadeiros representantes do povo que primam pelo mérito, mas há uma massa de oportunistas que vive à cata de vantagens pessoais, para si e para seus familiares, ou apaniguados.

E aí, entre mérito e malandragem, ficamos todos nós acreditando que “Deus é brasileiro” e um dia (quando será?) a “esperteza” irá acabar.

Enquanto este país valorizar mais os oportunistas, o povo jamais terá a oportunidade de progredir e ver seus sonhos realizados. Uma sina de nossa gente! Mas vem aí um novo governo petista. Então, o que esperar? De volta o oportunismo ou o aproveitamento da oportunidade para fazer um país melhor?

O tempo dirá.

Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante