Coluna Só Para Pensar – Água na fervura, até que em fim

Desde há algumas semanas, a temperatura política vinha subindo no nosso país. E isto não seria bom. Os poderes da República devem viver independente e harmonicamente. Cada qual com sua função e nesta organicidade está a solidez e a vivência da nação.

Os poderes são perfeitos na sua formulação, construídos através do texto constitucional. Lá estão estabelecidos os direitos e as obrigações, os limites, de modo que haja boa convivência e esta convivência venha se espargir a todos os seres da nação.

— Leia também: De volta à CPI – Só Para Pensar

Aires Brito, ex-ministro e presidente do STF, disse certa vez que “A Constituição governa quem governa”. Em suma, ela é o poder soberano de nossa Pátria, fundamental é segui-la. E ponto.
Contudo, se os poderes são claros e definidos constitucionalmente, eles exercidos por seres humanos, e sabidamente o ser humano não é perfeito, tem preferências, gostos, interesses, paixões, e isto colocou a temperatura política num nível alto, o que poderia chegar a um momento de efervescência total.

Executivo, Legislativo e Judiciário, estão vivendo como que uma partida de truco. A cada momento, cada poder vinha trucando sem parar. Truco 3, ou 6, ou 9 e por aí caminhavam os acontecimentos. A sorte é que os demais poderes não vinham aceitando, mas pode ser que algum deles aceitasse e aí…

Muitos são os casos que precisam ser esclarecidos. Governadores que gastaram dinheiro da pandemia indevidamente, manchando sua administração, militares que mancharam a sua farda com suspeitas de corrupção, até a presidência se machuca com a não comprovação que não houve prevaricação na sua conduta no caso da Covaxin.

Isto mostra como somos imperfeitos e o quanto temos que evoluir para sermos uma nação de homens livres e honrados, que respeitem a si mesmos e aquilo que representam para nosso povo.

Precisamos confiar em quem nos comanda. Por isso precisamos de exemplos para que possamos nos sentir seguros. Todos eles são líderes de gente comum como eu, você, e precisamos confiar nas lideranças que temos.

É imperativo que tudo se esclareça para que possamos continuar confiando naqueles que conduzem nossa nação e nossa gente. Dou a todos meu crédito de confiança, mas precisamos saber a verdade dos fatos.

Entretanto, isto não aconteceria com a temperatura alta. Seria preciso um banho de água fria, “gelar a cabeça” como se diz. Deixar de pensar em si, nos seus projetos pessoais para pensar no Brasil.

Foi o que ocorreu numa reunião entre o presidente Bolsonaro e o presidente Fux, do STF. Dali foi proposta uma reunião conjunta entre os poderes, o que esperamos tenha efeito prático. Mesmo o Presidente da República não podendo estar presente por conta da internação, o Presidente do Senado e do STF se reuniram, o que mostra a disposição em jogar de fato água na fervura. Uma esperança de calmaria.

Tem muita gente aqui nesta terra de Deus e somos um povo de índole pacífica. A cada dia, por mais alta que a temperatura esteja em Brasília, ou a pandemia nos assolando, o povo brasileiro sai cedo para trabalhar, ou para procurar emprego, a fim de cuidar da família, exercer suas funções profissionais e sobretudo, mesmo que haja passeatas, mantemos a obediência civil.

Por muito menos, em outros países, haveria uma parada geral, greves nacionais dos segmentos produtivos, e isto é desordem civil. Não somos deste tipo de gente, mas para tudo tem limite e pode ser que em meio a tantas incertezas quiséssemos agir, afinal o país é nosso e não de quem exercita os poderes da República. No fundo, muitas vezes é preciso caos para acabar com o caos, a história nos dá exemplos. E isto seria perigoso.

Por fim, tomara que dê certo, afinal não podemos nos esquecer de que nosso país será muito grande, mas dependendo daquilo que seus filhos farão com ele.

Sérgio Motti Trombelli é professor universitário,
Pós Graduado em Comunicação e Palestrante