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Coluna só para pensar: Confusão e descrédito
Quando a gente pensa que todos os problemas criados pelas eleições estavam chegando ao fim, surge algo novo que pode fazer as coisas voltarem ao patamar de antes, ou, quem sabe, até pior.
A contestação do pleito feita pelo PL não teve efeito prático que o partido e o presidente esperam, isto é, não mudará o resultado das eleições. No fundo foi um tiro no pé que serviu para o PL perder parte da verba partidária e perder o apoio dos demais partidos da coligação, o PP e o Republicanos. Farão falta na composição de apoio na Câmara Federal.
Contudo, uma nova chama vem sendo acesa na cabeça dos bolsonaristas radicais, que insistem em acreditar na fraude das máquinas de votação.
Vale dizer mais uma vez: este discurso é “fake News”, as urnas são seguras e as alegações do PL não se mantiveram depois da análise dos técnicos do TSE e outras instituições, inclusive o ITA, desacreditando as alegações de Waldemar Costa Neto, presidente do PL.
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Sabidamente as manifestações tem objetivos golpistas e são financiadas por empresários que acham que o momento é o de “quanto pior, melhor”. Desta forma, com subsídios para manifestantes ficarem à disposição e uma nova onda de discursos falsos, mas alentadores, o bolsonarismo se sustenta em cima de uma mentira que não será boa para o próprio Bolsonaro no futuro.
A extrema direita veio e se manterá. Bolsonaro catalisará em volta de si uma parte significativa dos eleitores brasileiros e ficará alimentando esta parte do eleitorado em torno de seu nome.
Entretanto, enganam-se os que acham que os 58 milhões de votos são exclusivamente de bolsonaristas.
Tem uma fatia de antipetistas nesta cifra e que, a se manter o que o movimento bolsonarista vem fazendo, tenderá a buscar outros nomes. Simoni Tebet é um deles e dentro da própria fatia bolsonarista, Tarcísio, governador eleito de São Paulo, é outro.
Este último mostra um pouco mais de bom senso, menos radicalização, e poderá surgir como o nome futuro da direita, só que menos radical, o qual, com o tempo tende a diminuir.
Ninguém é a favor de bloqueios de estrada que impedem crianças de fazer cirurgia nos olhos e periga ficar cega por isso, ou bloquear pessoas que precisam fazer exames de vestibular, ou ainda ir numa entrevista de emprego, isto sem contar o bloqueio de remédios, alimentos, combustíveis.
Ou, que provoca atraso no ponto de trabalhadores cujos prejuízos são de lulistas e bolsonaristas. Então, que “partido é este que teve meu voto e agora age contra mim’”?, é o que se tem ouvido por aí.
As patentes mais altas dos militares querem que o presidente se manifeste para acabar com isso. Mas o presidente se mantém em silêncio, até parece gostar. E mais confusão: políticos alinhados a Bolsonaro e militares de patentes mais baixa dizem que Lula não sobe a rampa.
Isto é perigoso e é crime contra segurança nacional.
Talvez, possa surgir algo mais sério que a população brasileira toda venha a desaprovar, e aí Bolsonaro resolva fazer “lives” a favor do fim do movimento, só que talvez então seja tarde demais.
Enquanto isso, no PT parece que tudo volta a ser mais do mesmo. O “batalhão da transição” se entumeceu de petistas porque as bases raízes do partido reclamaram que estão sendo deixadas de lado, e dá-lhe petista inflando o CCBB em Brasília.
Mantega foi o primeiro dos “mesmos”. Chegou falando bobagem e saiu porque quis. Só faltam nomes sepultados aparecerem para figurar nas fileiras petistas como antes. Que tal Genuíno, ou a esquecida Dilma, e quem sabe até o sempre radical José Dirceu, poderão renascer.
Afinal, é a velha fala “ói nóis na fita de novo…” Uma vez PT sempre PT, uma vez companheiro sempre companheiro. Aliás, é de Lula a frase “um irmão nem sempre é um companheiro, mas um companheiro é sempre um irmão”. Será que a irmandade petista voltará a aglutinar aquela família de boquinhas famintas no governo?
Quem votou em Lula era porque não queria mais do mesmo, agora a mesmice volta a toda velocidade, inclusive o estilo petista de compor alianças com quem era inimigo no passado, mas, se é de interesse no presente, então “são amigos desde criancinhas”. Arthur Lira que o diga.
Toda essa miscelânea gera na cabeça do povo uma só coisa: descrédito e confusão. Ademais, os noticiários dizem que não há dinheiro para atender ao mínimo necessário no país, não só o Auxílio Brasil que voltará a ter o nome de Bolsa Família. Vacas magras à vista.
Mas no mundo dos políticos todos estão de olhos atentos no seu próprio umbigo. É como se diz, eleição é fila, e a fila anda. Assim, para quem tem mandato, o “interessante” é ficar na fila, não importa com que partido e com que ideologia. Lamentável e decepcionante. A cada dia parece que dignidade é uma coisa démodé na política brasileira.
Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante
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