Só Para Pensar – Sergio Trombelli
Coluna Só Para Pensar – Os 400 mil
Os 400 mil
E eles se foram.
O que poderíamos ter feito para que ficassem?
O que faltou, o que foi feito de mais, ou de menos?
Eles se foram.
Eles tinham sonhos, perspectivas de um amanhã melhor,
que nunca chegou.
Eles tinham amigos, que sorriam juntos, time de futebol,
dançavam sambas, cantavam por pura alegria de viver.
Vozes que se calaram para sempre.
Eles estavam construindo um caminho nesta terra de Deus,
tinham lembranças de vitórias das quais se orgulhavam.
Eles tinham família.
Muitos eram filhos que fizeram chorar seus pais.
Muitos eram pais que fizeram chorar seus filhos.
Muitos eram maridos que deixaram viúvas e órfãos.
Muitas eram esposas que deixaram maridos e filhos,
sem mães.
Eles se foram.
Amores se interromperam, planos ficaram só no papel.
Os que restaram olham para o infinito e se perguntam:
Por quê? E agora?
Eles eram brasileiros que amavam esta Pátria
Muitos se foram sem o direito sequer de se despedir
e ver seus entes queridos.
Eles tinham um futuro,
eles tinham uma vida
eles tinham esperanças.
A gente sabia que esse número ia chegar, mas no fundo ninguém queria. E agora que os 400 mil partiram, todos nós ficamos pensando como isto foi acontecer, quem deixou de fazer alguma coisa no caminho que originou esta marca nada feliz que envergonha o país das maravilhas, do futebol, do carnaval, da miséria e da desigualdade social – uma marca triste que será lembrada até o final de seus dias. A História dirá de quem foi a culpa. Quem sabe a CPI comece a apontar alguns nomes, vamos esperar … ansiosamente.
Nosso país vive da contradição, não só de ricos e pobres, mas dos que sorriem e dos que choram. Temos a feiura crônica das ruas e belezas eternas das paisagens da terra, temos barracos em favelas e casarões em bairros nobres. O mesmo Cristo que nos recebe no Corcovado, se despede dos que se vão com os mesmos braços abertos. Somos um país de contrastes.
Os 400 mil se foram e não sabemos quem deixou de fazer a lição de casa para que ficassem, não todos, é claro, mas a maioria poderia ainda estar aqui se o correto tivesse sido feito. Na ânsia de viver, partiram. Sem medir cuidados, acreditando que estavam vivendo entre baladas e alegrias, mas caminhavam para morte e, tristemente, por contágio, acabaram levando muitos com eles.
Os recursos não vieram a tempo. Foi uma colheita triste que ceifou muitos que poderiam ter dado mais frutos e flores à Pátria, além de alegria como Paulo Gustavo. O que resta agora é regar a terra e plantar novas sementes de vida neste solo, em que “se plantando tudo dá”.
Precisamos plantar homens públicos mais comprometidos. Governantes mais responsáveis, uma educação e uma saúde mais eficientes, mais trabalho, enfim, precisamos plantar uma nova sociedade, mais interessada na vida e com o destino de nossa gente.
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Porque, me desculpem, mas do mesmo que vemos todo dia, basta, “tô de saco cheio” de um discurso que ouço desde criança: “O Brasil é o país do futuro”, mas este futuro nunca chega. Não chegou para os 400. E nunca chegará, enquanto o povo não exigir dos seus comandantes que construam um amanhã melhor e mais justo para todos. Tem muita gente poderosa por aí que luta contra o amanhã que queremos, porque para eles está bom como está.
E agora, estamos começando a contar em direção aos 500 mil, em uma semana a contagem chegou a quase 420 mil. Deste jeito, em 5 semanas chegaremos aos 500, e depois? Vamos caminhar talvez aos 600, ou até quantos?
Fotos estão sendo estampadas de autoridades recebendo um milhão de vacinas da Pfizer, e sorrindo se ufanam como se fosse o máximo, quando a possibilidade, tempos atrás, era de receber 70 milhões e não negociamos.
Falta uma voz forte, uma liderança eficaz com autoridade que possa estancar o desperdício de vidas, e em quem todos acreditem. Autoritarismo e autoridade são coisas diferentes. O autoritarismo é imposto, como cabresto; a autoridade se obedece, e simplesmente é obedecida porque tem credibilidade naquilo que sabe o que faz. Não temos nos comandando esta voz e já desacreditamos do autoritarismo inconsequente.
Somos um país grande e de riquezas imensas, podemos ser mais e teimamos ser menos. Na pandemia, o jeitinho brasileiro não funcionou. Ironicamente o “vírus está vacinado” contra nossa malandragem crônica e a dor nacional bateu à porta neste “’patropi’ abençoado por Deus”.
Eles eram 400 mil e se foram, deixando para trás a dor e as lágrimas de milhões. É muito choro, é muito desperdício humano que não dá para suportar.
Eu sei que uma voz apenas não resolve nada, por isso não adianta eu berrar aqui, mas vale insistir: ATÉ QUANDO ISTO VAI CONTINUAR ASSIM !!!?
Sérgio Motti Trombelli é professor universitário
Pós Graduado em Comunicação e palestrante
P.S. Domingo é dia das mães. Nossa saudade às que se foram; nossa alegria, saúde e pedidos de bênção às que ficaram. Que Deus esteja com todas elas.
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