Salvo algum engano, esta frase de César na antiga Roma tem mais de dois mil anos. “Não basta a esposa de César ser honesta, ela precisa parecer honesta”.
Àquele tempo, o imperador fazia alusão ao fato de que, ao povo romano, era preciso que sua esposa se mostrasse na sua plena honestidade, de modo que a credibilidade do imperador fosse vista, e o amor que o povo possuía por ele se mantivesse, dando-lhe força no poder político e militar, garantindo a sua perpetuação no comando do império.
De lá para cá, a frase dele vem se repetindo. E a preocupação com que ele, por justiça, tentava mostrar-se ao povo, de lá para cá, sofreu as modificações e inversões da política atual.
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Há inúmeros políticos que não são, mas insistem em parecer ser. Como se bastasse apenas isso, parecer o que não se é de verdade. É fácil enganar o povo assim. Só que agora estamos vendo isso a nível internacional.
Sua excelência, o presidente norte-americano Donald Trump, demonstra parecer o que em verdade ele não é. A megalomania americana fez com que ele acreditasse parecer um imperador universal, mas ele não é – pelo menos ainda.
Os decretos presidenciais que ele chancela com uma assinatura que ocupa meia página, devem dar a ele a sensação de que tem poder para decretá-los de fato e de direito.
E sinto que ele crê nisso, mesmo quando deseja mudar o nome do Golfo do México, já consagrado pela cultura mundial. Ou as taxações de impostos que são assinadas, canceladas, e continuam entrar e sair de seus discursos, indo e vindo, valendo e ainda não, ou muito pelo contrário e etc., como se fosse um jogo infantil de dominação nos tempos modernos.
Por conta disso, escolheu seus desafetos: Canadá, México, Dinamarca, China e União Europeia. Ao todo, 31 países. Poupou a Rússia, não por medo dela, mas por medo da China, pois se os russos se unirem aos chineses, xiiiii …
Decretou aumento da taxação dos produtos americanos para a China. A China, obviamente, retalhou. Então, nervoso, ele proibiu o Serviço Postal dos Estados Unidos de entregar qualquer pacote que veio dos chineses em solo americano.
Com isso, ele dá uma martelada no próprio o pé, porque as empresas americanas comercializam com a China e com esta medida, Trump prejudica o próprio povo americano. Mas sabe como é “Aqui quem manda sou eu!”
Quer tomar a Groenlândia da Dinamarca como se fosse terra de ninguém; anexar o Canadá a seu país como se fosse propriedade dele. Imaginem uma nação inteira agora cantaria o hino nacional dos EUA e não de seu próprio país.
E mais, quer invadir um país para gerenciar um canal marítimo que beneficiaria somente os EUA, como se o Panamá a ele pertencesse. Enfim, são muitas elucubrações mentais em tão pouco tempo de governo.
Contudo, nenhuma outra elucubração é tão grande quanto tomar a faixa de Gaza para empresários dos EUA. Desta vez não é uma questão de estado, mas de investimento empresarial.
Ele quer desenvolver um projeto turístico na terra Palestina. O plano prevê construir a já denominada por ele, “Riviera do Oriente Médio” em Gaza. Os Estados Unidos trabalhariam com empreendedores terceirizados para reconstruir a região de “maneira cuidadosa e lenta”. E nenhum soldado americano seria necessário, segundo Trump.
O território palestino, Trump escreveu assim na publicação, seria entregue por Israel aos Estados Unidos ao fim da guerra. Os EUA tomariam as providências no sentido de encontrar investidores para a tal Riviera.
E os moradores de Gaza? A propriedade de cada um, o que seria da nacionalidade deles? Trump imagina que seria extinta a nacionalidade toda para poder dar a posse das terras aos americanos. Seria a extinção de uma nacionalidade inteira.
Com certeza, ele está pensando em sua própria expansão empresarial, já que possui empreendimentos em vários lugares do mundo.
A comunidade internacional se rebelou imediatamente, embora continue repetindo em entrevista esta sua ideia. Na verdade, ele quer parecer um presidente que, por ter poder econômico e militar, pode ditar normas a outros países do globo, o que de fato ele não pode. (E Trump é suficientemente inteligente e bem assessorado para saber que não pode fazer isso, mas vale parecer que sim).
Se, antigamente, ser e parecer eram coisas fáceis de se aceitar, uma vez que o mundo era ainda pequeno e o poder sobre ele estava nas mãos de uma só nação, Roma, hoje não é tão fácil assim.
Apenas parecer não basta aos olhos poderosos da Rússia, da China, dos Brics, e tantas outras nações que respeitam a identidade e a soberania das demais nações.
Assim, aqui cabe uma outra frase que costumeiramente usamos no Brasil: “Menos senhor presidente, menos, porque menos, muitas vezes, é mais”.
O tempo dirá. E já que nada podemos fazer contra isso, ou a favor, ou sei lá, o que nos resta é apreciar como se fôssemos espectadores entretidos no desenrolar de um drama bem a gosto de uma peça de teatro do globo, não ‘da Globo’.
Quem sabe até uma Ópera Bufa, onde os personagens mais fazem rir do que chorar.
Talvez só por enquanto. Amanhã quem sabe.
Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante
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