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Cooperativas protagonizam coleta seletiva em Guarujá
Além da dificuldade que a população em geral tem para encontrar locais de descarte de material reciclável nos bairros, dados oficiais da coleta seletiva em Guarujá não refletem a produção na cidade, pois não contabilizam volume recolhido pelas cooperativas e por catadores
Tatiana Macedo
Da Reportagem
De acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos 2021, divulgado pela Abrelpe – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais -, o Brasil contabilizou 27,7 milhões de toneladas anuais de resíduos recicláveis. Contudo, continua reciclando pouco, com média de reciclagem abaixo dos 4%.
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Segundo a pesquisa, cada brasileiro está produzindo um volume equivalente à geração de 379 quilos por ano. Dados do Município de Guarujá, divulgados pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semam) no último dia 25, mostram que, por aqui, a reciclagem segue acompanhando o índice nacional.
Em uma cidade com mais de 327 mil habitantes, os números oficiais mostram que no primeiro quadrimestre deste ano foram recicladas 100 toneladas de material, ou seja, cerca de 0,8% do que é descartado no município, apenas pela população.
Sem contar os grandes geradores. É pouco, diante da média individual da Abrelpe e considerando que a cidade de Santos, alcançou um aumento para 18% no índice da reciclagem de todo o lixo produzido.
Trabalho cooperado
A nossa reportagem foi buscar entender os motivos dessa realidade em Guarujá junto à cooperativas, poder público e comércio. Segundo Félix Florentino da Silva, diretor da Cooperativa Novo Mundo, os números divulgados pela prefeitura estão abaixo do que realmente é coletado na cidade porque não considera o trabalho cooperado.
“Só a cooperativa Mundo Novo coletou mais de 500 toneladas no período divulgado pela prefeitura, pois eles fazem o cálculo apenas em cima da coleta do caminhão que eles cederam. Mas, a cooperativa tem outros veículos próprios e não entra a contabilização do material coletado”, explica.
Felix também fala sobre o material coletado por catadores individuais. “Eles trabalham por conta própria, e nada do que eles recolhem é contabilizado e registrado o que vai ser devolvido depois para a cadeia de comércio. Pois todo esse material vai para ferros velhos, que na sua maioria são irregulares. E não é tributado nada para a prefeitura e não tem nenhum tipo de registro”, pontua.
Falta conscientização
Embora esse número possa estar um pouco maior do que é divulgado pela administração municipal, as cooperativas apontam para uma falta de instrução ambiental para a população e empresas geradoras desses materiais, que não sabem diferenciar o que é lixo de recicláveis ou não sabem como fazer o descarte.
Apelo ao comércio
O presidente da Cooperben, Marcelo Mello, outra cooperativa local, fez recentemente um pedido à Aceg (Associação Comercial de Guarujá), cobrando engajamento na questão da reciclagem e da logística reversa.
“O comércio precisa regularizar a questão da reciclagem e logística reversa. Isso ajudaria também economicamente cerca de 8 mil catadores que vivem na informalidade, e as pessoas não os reconhecem, pois sequer têm uniforme. São famílias que sobrevivem daquilo que se joga fora”, reflete.
“A coleta seletiva para ser eficaz tem que abranger toda a cidade. Pode até ser repartida entre o poder público e as cooperativas. De nossa parte, tentamos fazer a divulgação de porta em porta em nosso bairro (Jardim Progresso), com bicicleta com som”, afirma Félix, da Cooperativa Novo Mundo.
“Precisa de divulgação sobre a lei, e a reciclagem tem que começar nos bairros, e depois ir expandindo. Não adianta só fazer a coleta em locais pré-determinados. Se não for para agir em uma cidade inteira a coleta acaba sendo ineficaz”, finaliza o catador.
A Lei é clara
Guarujá dispõe de lei municipal sobre os objetivos, instrumentos, princípios e diretrizes para a gestão integrada de resíduos sólidos no Município. Na norma em vigor, que integra o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS), “a responsabilidade pelos resíduos sólidos, desde sua geração até a destinação final, cabe aos geradores nas suas especificidades”.
Em outras palavras, quem gera o lixo tem a obrigação de selecionar, embalar e destinar para locais adequados. A dona de casa tem a obrigação de colocar seus recicláveis em lixeiras destinadas para esse fim no seu bairro.
Bem como o comércio e a indústria têm a obrigação de transportar seus resíduos para o destino certo e, no caso de grandes volumes, podem contar o serviço prestado por essas cooperativas situadas na cidade.
“Se não tem fiscalização (da prefeitura), não tem material para recolher. A gente percorre o roteiro e quando chega no local não tem quem atenda, ou o prédio diz que não tem local para colocar o material; ou ainda tem aqueles que misturam o lixo com o material reciclável”, afirma Marcelo.
E continua: “Na lei municipal cabe à prefeitura fiscalizar tanto condomínios, quanto comércios sobre o descarte. Se não acontece, a lei se torna mera formalidade”, pontua.
E nos bairros?
A condômina Heloisa Lima, que reside em um edifício no centro de Guarujá não consegue descartar seu lixo reciclável. “A gente até tem estação no prédio, mas o síndico não conseguiu um acordo para retirada regular do material e encerrou a reciclagem coletiva para não virar depósito de entulho no estacionamento”, afirma.
Heloisa disse à reportagem que não tem conhecimento de pontos de coleta de recicláveis na região onde mora.
Seman investe em segmentos
A reportagem entrou em contato com Cleyton Jordão Soares, superintendente de Pesquisa de Meio Ambiente Urbano da Prefeitura de Guarujá, que afirmou: “Temos o Departamento de Controle Ambiental que faz essa medida da fiscalização em condomínios residenciais e todos os geradores de material na Cidade”, afirma.
A reportagem questionou sobre as ações de conscientização para a população e políticas de incentivo à reciclagem. Segundo Cleyton, a Semam vem atuando em parcerias para ações, mas com abrangência limitada.
“A estratégia da Seman é fazer reuniões com associações que representam condomínios, assim como de outros seguimentos, como a ACEG, pois não dá para a gente estar onipresente em todos os cantos ao mesmo tempo”, explica.
PEV’s
A dificuldade para reciclagem é maior para a população dos bairros. A cozinheira Maria de Lourdez, moradora do Santo Antonio, nos disse que parou de reciclar quando a “lixeira” que ficava perto de sua casa foi retirado. “Ficava muito cheio de lixo, fraldas e comida mesmo, mas a gente sempre deixava lá os recicláveis. Depois que tiraram eu não sei mais onde deixar aqui perto de casa”, afirma.
A cozinheira se refere aos Postos de Entrega Voluntária (PEV) que ficavam localizados em alguns pontos da cidade, disponibilizados pela prefeitura, e que foram retirados sem aviso prévio.
Sobre os PEV’s, o superintendente da Seman relatou que três dos nove equipamentos disponibilizados para a população foram retirados das ruas para reforma. “Na próxima segunda-feira (25) devolveremos três”, comunicou. “E na sequencia outros três serão retirados de outros locais para reforma também”.
Cleyton afirmou que serão recolocados os PEV’s da Praça do Possidônio, no Santo Antônio e do Praça 14 Bis, em Vicente Carvalho, o terceiro, não soube informar. Ele afirmou, ainda, que a secretaria vai estudar novos locais para a colocação de alguns dos outros seis. “A população não cuida, queima lixo dentro do equipamento, então vamos mudar de lugar”, adianta.
Questionado sobre o trabalho de conscientização e orientação sobre o tema à população, a Seman explica que sua estratégia é trabalhar com públicos segmentados. “Nós buscamos as associações de bairros e trabalhamos nas escolas, assim fica mais fácil atingir o público. Recentemente, fizemos uma cartilha explicando como se faz a reciclagem, mas não distribuímos para a população para nãos serem jogados em vias públicas”, afirmou.
As cartilhas, segundo Clayton, estão disponibilizadas à população nas bibliotecas da cidade.
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