Estância do Leitor
Cooperativismo financeiro: caminho para uma sociedade mais justa e próspera
Ênio Meinen
Recentemente, desafiei-me a refletir sobre o papel do dinheiro em nossa sociedade, e agora compartilho essa mesma reflexão com você: é possível imaginar um cenário em que o dinheiro não seja apenas ferramenta de troca, mas um meio para promover uma sociedade mais justa e próspera? Por ambicioso que pareça, a resposta é sim, e o cooperativismo financeiro está transformando essa perspectiva em realidade. O que torna a ideia tão inspiradora é o fato de, nas cooperativas, o foco não ser o lucro, com benefício para poucos, mas o bem-estar de muitos.
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O cooperativismo financeiro emerge como uma força transformadora, oferecendo um modelo de atuação que coloca as pessoas no centro das decisões, incluindo o direito a voz e voto. Aqui, o sucesso de cada cooperado reflete diretamente no sucesso da cooperativa e, consequentemente, nos territórios em que o empreendimento cooperativo está inserido.
Neste 17 de outubro, comemoramos o Dia Internacional das Cooperativas de Crédito (DICC), iniciativa concebida pela primeira vez em 1948 pelo Conselho Mundial das Cooperativas de Crédito (Woccu) para lembrar ao mundo que o cooperativismo tem o poder de promover a inclusão e a justiça financeiras, bem como contribuir para o desenvolvimento sustentável, independentemente do contexto socioeconômico local. Em 2024, o tema do DICC é “Um mundo através do financiamento cooperativo”, uma mensagem que captura a essência dessa abordagem: juntos, por meio da cooperação, podemos moldar um futuro mais próspero, equilibrado e colaborativo para todos.
A robustez global do cooperativismo financeiro é inequívoca. Segundo o Woccu (dezembro/2022), há mais de 82 mil cooperativas financeiras espalhadas por 118 países, atendendo a cerca de 404 milhões de pessoas, que representam 13,9% da população em idade economicamente ativa. Às cooperativas é confiada a gestão de 10% dos ativos de toda indústria financeira global. Esses números impressionam, mas o impacto real vai além das estatísticas: está, sobretudo, nas vidas que essas cooperativas transformam, criando oportunidades para pequenos empreendedores, indivíduos e famílias que, de outra forma, estariam excluídas de um atendimento pleno e humanizado pelo sistema financeiro convencional.
No Brasil, o movimento cooperativista é aliado relevante na implementação da Agenda BC# do Banco Central, que busca modernizar o sistema financeiro, democratizando o acesso ao crédito e aos demais serviços de natureza bancária e correlatos.
Os resultados são perceptíveis: o Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC), publicado pelo Banco Central em 2023, revela que o segmento já conta com 17,3 milhões de cooperados, dos quais metade integra o Sicoob. Para além disso, o sistema financeiro cooperativo, que gera emprego direto para 145 mil profissionais e propicia economia expressiva de custos nos serviços prestados aos seus membros, responde por 23% do estoque de crédito do público formado pelos microempreendedores individuais, pelas microempresas e empresas de pequeno porte; fornece 20% de todo o crédito para a atividade rural, neste caso beneficiando micro, pequenos e médios produtores, e investe R$ 1 bilhão a cada ano em projetos sociais.
Essas marcas refletem o sucesso de um modelo que, a cada ano, atrai mais pessoas dispostas a fazer parte de uma solução que também contempla o seu entorno operacional, tal como proclama o 7º mandamento cooperativista universal.
Trata-se de um formato empresarial atual, fundamentado em valores e princípios como autogestão, democracia, solidariedade e engajamento territorial, permitindo o compartilhamento da propriedade, do capital, da gestão e do resultado econômico. Quanto mais a cooperativa prospera, mais os benefícios se irradiam entre os cooperados. É uma rede de valor que conecta milhões de pessoas para promover o bem.
Para estar mais próximo dos indivíduos e dos empreendedores, e assim poder cuidar melhor de seus interesses e dos de suas comunidades, o cooperativismo financeiro conta com o maior contingente de dependências físicas do sistema financeiro nacional, com cerca de 10 mil unidades de atendimento. Em aproximadamente mil pequenas localidades, as cooperativas são as únicas a assegurarem atendimento presencial pleno e interagirem com a coletividade do lugar.
Além disso, por meio dos canais remotos, as cooperativas vêm-se adaptando ao cenário tecnológico e ao movimento de Open Finance e Drex, que está mudando o jeito como os serviços financeiros são prestados. Essa abertura permite que as cooperativas ampliem sua atuação, oferecendo soluções mais ágeis, inovadoras e acessíveis. A integração entre tecnologia e propósito humano reforça a relevância desse modelo em um mundo cada vez mais digital.
O cooperativismo financeiro, enfim, mais que uma alternativa de negócio, é um mecanismo poderoso de transformação socioeconômica. Diante de motivos generosos, e não desconhecendo os desafios e as muitas oportunidades, celebremos a ocasião.
Ênio Meinen
Diretor de Coordenação Sistêmica, Sustentabilidade e Relações Institucionais do Sicoob
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