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Devo ficar feliz?
O Cartão Corporativo do Presidente Lula em 10 meses, gastou R$14.800.000,00, o que significa que em um mês, a bagatela foi de R$ 1.480.000,00. Faça a conta de confira, o valor anual, se continuasse na mesma proporção, seria de R$ 16.800.000,00.
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Como estou feliz, presidente. Que orgulho tenho da riqueza de meu país. Temos tanto que o presidente pode gastar tudo isso. E olha, isso só no cartão corporativo. Tem ainda o salário; e mais, presidente não gasta nada, comida, carro, aluguel, enfim não enfia a mão no bolso para gastar do seu, afinal a República paga. Isto é, NÓS pagamos.
E não é só isso. Pagamos todos, presidente, deputados federais, senadores, governadores, deputados estaduais, prefeitos, vereadores, afinal, todos estão trabalhando para a sociedade.
Mas será que estou feliz mesmo? O meu aumento este ano foi de quase 100,00 por mês. Menos que um botijão de gás que custa 150,00. “Êpa”, que “aumentaço” QUASE um bujão de gás!
Dia 1º de janeiro o salário mínimo foi para R$ 1.412,00, o que perfaz, por ano R$ 16.944,00. Nem vou fazer a conta da diferença para o cartão corporativo de Sua Excelência, para não ficar mais indignado.
Será que dá pra ser feliz? Duvido.
Quem sabe se a educação de nossos filhos fosse como em outros países, mais completa com tudo recebido gratuitamente do estado, uniforme, livros, cadernos, material em geral, etc., etc., etc.
Quem sabe também se o preço dos alimentos fosse um pouco mais estável. Um quilo de batata numa semana é R$ 5,00; em outra semana, mais de R$ 10,00, e depois nunca volta a ser R$ 5.00 E assim com os outros alimentos, e ninguém fiscaliza.
Quando os supermercados fazem promoção, tudo é mais barato. No dia seguinte o preço volta a ser o que era. Ué, se deu para vender com desconto um dia antes, por que não mantém o desconto? Ou será que no dia de promoção o supermercado teve prejuízo? Não entendo estes malabarismos de preço.
Veja, não estou me referindo aos políticos de hoje, os anteriores já eram assim e os anteriores aos anteriores também. Eles fazem isso, porque a lei permite. Desse jeito ficar claro, o problema não são as pessoas, é o sistema. A estrutura governamental brasileira é nociva ao povo, assim sendo, é nociva a si mesma.
Eu fico pensando quando isso terá fim. Sabidamente, a democracia está em crise no mundo todo. É o melhor dos sistemas, mas não está bom. De quando em vez, tímidas mudanças agregam nomes diversos à mesma democracia: democracia cristã, democracia social, democracia liberal, mudam para tudo ficar com está.
Em alguns países do norte da Europa, o sistema político é mais humano, e o povo é mais feliz. A riqueza nacional não é do governante, nem do governo, este apenas administra, mas deveria administrar para quem a produziu: o trabalhador.
Eu sei que esta matéria não vai sensibilizar nenhum dos políticos, eles estão em suas “caixinhas gordas” e bem acomodados. Mudar, nem pensar, pra quê?
Mas, quem sabe, um desabafo hoje, outro amanhã, outro depois, possa ajudar a fazer com que a consciência popular mude, e a escolha dos representantes da sociedade seja mais seletiva.
Outra coisa, quem sabe o sistema político seja objeto de estudo de algum filósofo, de alguma mente mais brilhante do que a minha, e faça por aparecer um sistema político mais digno e humano.
Enquanto isso, vejo matérias de TV com trabalhadores apertados em trens, metrôs, ônibus, às 4h, 5h, 6h da manhã, indo à luta pelo pão de cada dia e penso, será que é sina do brasileiro, ou algum carma a ser resgatado pelos abusos da escravidão, por exemplo, ou seja lá o quê.
Na verdade, como está não é justo. Os pedintes aumentam, as crianças nos faróis, os doentes enfileirados para um exame que será marcado para três ou quatro meses à frente. Que pensa, podia ser melhor.
O 1% mais rico do Brasil, formado por 1,5 milhão de pessoas, controla quase 25% da renda total do país. O Blog Ponte Social trouxe o lamentável número dos pobres em nosso país: 52 milhões vivem em cenário de pobreza, 39 milhões vivem na pobreza, 13 milhões vivem na extrema pobreza.
Somando isso tudo dá 104 milhões em estado de pobreza no país onde o cartão corporativo do presidente gasta R$ 16.800.000,00 por ano (os outros presidentes também gastavam proporcionalmente igual).
Então, realmente “devo estar feliz?”, aliás, quem pode estar feliz a não ser os donos das benesses nacional?
Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante cristão
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