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Dois assuntos em uma só coluna

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Primeiro

A discussão sobre a quantidade de manifestantes do último dia 25 na Av. Paulista em São Paulo é totalmente insípida. A questão não é 120 mil ou 700 mil, ou até os improváveis 1,2 milhão de pessoas.

»» Leia mais: Lula e o improviso

O que interessa é que houve a manifestação e ela foi expressiva. Assim os números não são necessários e sim o que ela representou e representará daqui para frente. Bolsonaro, de fato, mostrou que o nosso país está dividido entre duas forças políticas de respeito.

A de Lula, que venceu a eleição e por isso tem a força de um presidente com todo o poder que a presidência da República lhe confere.

E a de Bolsonaro que, sem mandato e seus direitos políticos suspensos, junta um pessoal representativo na maior cidade do país e no espaço mais simbólico da Paulicéia, a Av. Paulista. Sempre defendi a tese de que, em política, você pode vencer bem – o melhor dos mundos -; ou pode vencer mal – seja como for venceu; pode perder bem – mostra a força independente da derrota, e você só não pode perder mal – é ir para o esquecimento.

Claro então que vencer é sempre melhor, contudo perder bem, e na última eleição presidencial foi um exemplo de que perder muito bem é uma bênção, porque se torna oposição, com peso político e possibilidade de criticar da maneira que bem desejar quem está no poder.

Existem pesquisas sobre a questão que diz respeito a prisão de Bolsonaro. Cada qual, seguindo as cores partidárias de a favor ou contra, mas os números mostram que não existe uma aceitação significativa que, a despeito de tudo o que foi apurado sobre Bolsonaro, sua prisão seja algo de pacífica aceitação geral.

Digo pacífica e não merecida, já que a mim não compete julgar.

O país está dividido, e divisões não são boas para nada, a não ser a possibilidade de tumulto, às vezes violência e até pior. É esperar para ver, mais que isso, é esperar e torcer pelo melhor. Dizem que o brasileiro é a nação do jeitinho. Pois bem, jeitinho é o que precisamos agora.

Segundo

O Papa Bento XVI, que abdicou e recentemente faleceu, quando esteve em visita oficial a Auschwitz, após ver as atrocidades lá cometidas pelos alemães de Hitler, em tensão de desespero perguntou “Onde estava Deus”.

Uma indagação forte demais para quem é o representante máximo de Deus aqui na Terra, mas as barbaridades que são vistas chocam de fato todos que ali vão.

Uma guerra, seja qual for, tem que ter, apesar da violência, um mínimo de ética, afinal somos seres humanos, e se assim não for, voltamos aos tempos das hostes bárbaras da Europa, que dizimavam civis e crianças nas terras conquistadas. Foi um tempo de absoluta crueldade.

A civilização trouxe algumas regras para caracterizar a mínima civilidade que o ser humano deve ter, mesmo em conflitos bélicos, e o primeiro deles é não afetar “deliberadamente” os civis.

Contudo, para um povo que sofreu a insanidade de Hitler, tomar a mesma atitude hoje na Palestina, é admitir que a civilidade judaica foi atirada na lata do lixo.

As grandes emissoras de TVs não mostram, mas numa entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, da Rede, no dia 27 de fevereiro último, Lula respondeu às provocações do Ministro de Relações Exteriores de Israel, que insta o presidente, exigindo uma resposta do que declarou na África.

E nosso presidente deu, mas, com certeza, não era o que o Ministro queria ouvir. Lula respondeu falando mais forte ainda. No que esteve certo e merece elogios.

Ele deixou claro que a matança dos palestinos é intencional e visa acabar com todos, limpando assim a Faixa de Gaza. Um extermínio genocida, e é o que está ocorrendo.

Crianças, comendo grama, que ofende o estômago humano e não há analgésico para aliviar a dor. Além disso, civis tomando água barrenta que tem dado diarreia e não há medicação disponível.

O representante dos Médicos Sem Fronteiras acusou, para o mundo, o impedimento que Israel vem fazendo para que chegue ajuda humanitária aos palestinos. Sem resposta de Israel. É uma matança deliberada, como disse o presidente Lula.

Há quem não aprenda com o seu sofrimento, e se esquece da barbárie sofrida, passando a fazer o mesmo que lhe fizeram. Como se o que foi sofrido, eximiria de toda a culpa, a barbaridade que possa fazer daí para frente.

Fica aqui o registro. Seria bom que todos se lembrassem do Papa Bento XVI e junto perguntássemos “Onde está, Deus?”.

Sou um cristão e creio em Deus, mas não entendo tanta dor, afinal para quê? Por isso, sinto que o Criador está fazendo falta na Palestina e junto minha voz no mesmo coro: “Deus onde está você?”

Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante cristão.

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