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Em busca de Deus
O canal History2 possui um programa excelente chamado À Procura de Deus. Aliás, este seria um tema para deixar no ar eternamente, afinal desde que o ser humano existe ele procura algo além da realidade.
Esta busca, através de religiões, ou mesmo sem elas, faz do ser humano um ser que tem dentro de si uma necessidade que a materialidade do mundo não consegue suprir. Assim, Deus é uma necessidade íntima do ser humano, cuja limitação de tempo e espaço nos condiciona a ser um ponto diminuto no gigantismo do universo.
Somos impotentes para responder as grandes questões que nos afligem desde sempre: quem somos? De onde viermos? Por que estamos aqui? E somente dentro da crença, estas respostas alcançam um vislumbre de entendimento.
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Assim, o programa aborda coisas que jamais imaginamos existir, tamanha a diversidade desta busca, mas que confirma que no mundo procurar pelo sublime é algo que jamais desparecerá.
É da nossa natureza crer num ser superior capaz de controlar tudo o que existe, e mesmo com o livre-arbítrio humano, este ser nos conduz pelo universo a fim de cumprir um plano existencial que ele criou.
Ou seja, Deus através de seu livre-arbítrio também tem um projeto para nós e na conjugação destes dois livres-arbítrios, nosso mundo se faz. Maktub e livre-arbítrio se contrariam e se completam a cada volta dos acontecimentos no cotidiano do dia a dia.
Mas, nesta semana, o programa foi feito na Ucrânia. E o que vimos lá foi arrasador. O povo ucraniano de fato é um povo que vive à procura de Deus. As igrejas que lá existem é a prova do respeito do humano pelo divino.
Contudo, a entrega a Deus na Ucrânia é extremamente forte, porque a história mostra que desde a década de 30 o povo daquele país sofre as injustiças impostas pela dominação russa. Primeiro foi Stalin que, de forma insana, impediu os ucranianos de comerem trigo e com isso ficaram sem o pão e seus derivados, limitando a sua possibilidade de alimentação. Milhões morreram de fome.
Depois, vieram guerras, contendas que ceifaram vidas e mais vidas e quando tudo parecia caminhar para uma estabilidade social e desenvolvimentista, feliz, vem esta guerra descabida, imposta por Putin.
Contudo, a dimensão religiosa dos ucranianos não desapareceu. Lá, vimos igrejas e mais igrejas com os fieis, mostrando que a fé permaneceu ao longo do tempo, apesar do sofrimento. E ainda permanece, mesmo com tanta opressão e dor.
Pensadores já levantaram hipóteses que nos aterrorizam sobre o livre-arbítrio. Quando uma pessoa cruel, por uso de seu livre-arbítrio faz mal a outra, mesmo quando esta não quer sofrer, como fica o livre-arbítrio do sofredor? Será que Deus faz por prevalecer o livre-arbítrio dos opressores em detrimento dos oprimidos?
O que existe na Ucrânia hoje é isso: os poderosos usam do livre-arbítrio que possuem para oprimir os fracos que não querem a guerra. As ações belicosas de Putin, fruto de seu livre-arbítrio podem prevalecer sobre a vontade de paz dos ucranianos? Parece injusto demais e nos coloca frente a frente a nossa crença.
Isto me faz lembrar que quando o Papa Emérito Bento VI visitou Auschwitz, ele mesmo desabafou, dizendo, “Onde estava Deus?” Até ele, Papa, procurava por Deus num momento de agonia e dor imposta por um tirano aos filhos de Deus.
Ninguém sabe os desígnios do Criador, mas tomara que a Ucrânia, mesmo quase que destruída, continue sua procura por Deus, não desista Dele. O mal é uma criação humana e não divina, por isso que a vida eterna trará sempre louvores aos injustiçados e condenação aos tiranos.
O Espiritismo explica os porquês disto tudo muito bem. Por esta razão é que devíamos nos atentar na crença do Senhor dentro desta fé kardecista, talvez a única capaz de explicar estas atrocidades e nos manter firme na busca de Deus, pois Ele é, como disse “o caminho, a verdade e a vida”.
Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante
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