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Entre Sons e Tons – Tatiana Macedo

Coluna Entre Sons e Tons está de volta!

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VOCÊ IMAGINA O ÓDIO COMO UM PRODUTO? TEM GENTE QUE É VICIADO NELE!

Você sabia que existe um exército invisível de pessoas que gastam seu tempo com coisas que odeiam? Pessoas que são viciadas em odiar? Pois é! Milhares de pessoas passam horas em frente a tv ou nas redes sociais apenas praticando esse vício. Uma recente pesquisa aponta para que é possível que canais e estúdios cinematográficos tenham percebido essa tendência: a predisposição de que o ódio gera conversa (muita conversa). Então, em uma economia em que a ‘atenção’ vale ouro, produtos feitos para serem odiados seriam mais lucrativos?

Em um recente documentário produzido para plataforma de streaming, ‘Na mente de um Hater’, o pesquisador de comportamento de consumo, Thiago Faria, tem uma hipótese. Ele trabalha para um monte de empresas gigantes e concorda que o ódio passou a pautar as nossas escolhas culturais. E cita alguns motivos: “Nunca consumimos tanto conteúdo.  E é natural que tenham mais conteúdos disponíveis que a gente desgosta”, reflete.

“Nós, a partir da pandemia passamos a viver um certo ostracionismo e, tanto o amor, quanto o ódio, de alguma forma contribuem para sairmos desse cenário flat em que estamos. A passionalidade neste momento é até bem vinda”, afirma. “Nosso cansaço mental por conta de todos os dramas que estamos vivendo nos faz sermos mais passivos”, diz ele. “Ver um filme ruim as vezes até traz conforto e tira a carga pesada você saber que está consumindo algo ruim, pois já sabe que é ruim mesmo”, provoca Thiago.

ódio na internet-reprodução

HATEWATCH JÁ ESTÁ ATÉ NO DICIONÁRIO

O termo Hatewatch já está até incluso no dicionário americano Merriam Webster. É um verbo transitivo direto, e sua definição é: “assistir a algo para sentir prazer rindo desse produto ou criticando”, como por exemplo um programa de tv, um filme, ou até a conta de alguém no Instagram.

O ódio recreativo, inclusive, já chegou até ao dicionário Derby, e é analisado há muitos anos em diversos países. A crítica de tv mais famosa do mundo, a americana Emily Nussbaum, é a provável criadora deste termo. Ela, que já ganhou um prêmio Pulitzer, escreveu, em 2012, que estava assistindo uma série motivada pelo ódio e, ali, foi primeira vez que o termo Hatewatch apareceu na grande imprensa.

Mas, o conceito de consumir pelo ódio já existe faz tempo! Na Inglaterra há um prêmio para a pior cena de sexo na literatura de língua inglesa. O troféu se chama The Bad Sex In Fiction, criado em 1993 pela revista Literary Review. Só que o prêmio acabou engolindo a revista. Hoje, a revista é mais conhecida pela premiação para o texto ruim de sexo, do que pelas críticas que faz. Esse é o poder do ódio. Ele viaja, engaja, comove.

Outro exemplo do poder do ódio é o prêmio Framboesa de ouro, uma espécie de Oscar ao contrário, que elege a pior atuação, a pior direção e o pior roteiro do mundo. Esse prêmio existe há 40 anos, mas ganhou uma nova importância com o surgimento da internet.

O que passou a acontecer? O filme que ganha o prêmio de pior do ano, acaba ganhando de brinde milhares de expectadores. Os organizadores do prêmio Framboesa de Ouro relatam que há quem comemore o prêmio, porque é melhor ser o melhor pior filme do mundo, do que ser somente mais um filme ruim. Ou seja, dá dinheiro!

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PRODUTOS FEITOS PARA ODIAR

Recentemente, uma pesquisa levantou indícios de que grandes plataformas de streaming estavam criando filmes e séries feitos justamente para serem odiados. Ainda faltam evidências, e nenhum desses grandes serviços admite que pensam nestes produtos, que serão tão – mas tão ruins – que irão viralizar através de xingamentos nas redes sociais. A pesquisa não crava que isto esteja acontecendo, mas levanta essa possibilidade.

 

CONSUMO DE INFORMAÇÃO PELO ÓDIO NÃO PARA

É só olhar para as últimas eleições no mundo todo, e parar para pensar no papel que a internet teve, e no tipo de conteúdo que as pessoas compartilham até viralizar. São mensagens de amor, de esperança e de construção de uma sociedade melhor? Ou são só mensagens de ódio?

Sabe por quê? O algoritmo é um bichinho carente. Ele gosta de qualquer coisa que conquiste a atenção, que as pessoas realmente compartilhem, comentem e curtam. E muitas vezes eles não avaliam se essas ações são positivas ou negativas. E as plataformas de streaming baseiam boa parte do seu negócio nestes algoritmos. O ditado “falem bem ou falem mal, mas falem de mim” está mais atual do que nunca, e ganhou uma nova força.

 

SERÁ QUE VOCÊ TAMBÉM ESTÁ SENDO CONSUMIDO PELO ÓDIO?

E você, o que mais consome? É o que te causa vergonha alheia, críticas, que você não admitiria em público? Ou não? Fica esse exercício: Some todas as horas que você consome informações que você gosta de verdade, e depois as horas que você passou vendo aquilo que você odeia, a pessoa que você despreza e veja quem vence! Qual alternativa você dedica mais o seu tempo? Será que você também está sendo consumido pelo ódio?

Voltando à opinião de Thiago, aquele pesquisador de comportamento de consumo que iniciamos a matéria, ele diz que não duvida que haja realmente uma intenção de fazer esse conteúdo para o ódio pelas plataformas de streaming e estúdios, mas, ele diz que tem dúvidas se essa é mesmo uma fórmula mágica: “Não sei se essa fórmula é tão fechada assim. Tantos conteúdos todos os dias aparecem por aí… mas é improvável que se saiba exatamente o que o interlocutor ama ou odeia. Podem até ter a intenção, mas uma fórmula acredito ser improvável”, afirma Thiago. “Se soubéssemos como fazer um produto que todo mundo odeia, também saberíamos fazer um produto que todo mundo ama”, acredita o estudioso.

hatewatch-reprodução

E PODE ATÉ NEM SER NADA DISSO

Essa conversa que estamos tendo sobre as plataformas de streaming estarem deliberadamente a criarem produtos ruins para ganharem espaço pode, até, ser uma propaganda para estes canais. Porque estamos falando deles, e em um mundo onde a ‘atenção’ vale muito dinheiro é exatamente isso que todo mundo quer. A gente pode até achar que está revelando um lado feio do sistema, e olha o sistema podendo estar nos usando como marionetes, de novo (rs).

Gostou dessa matéria? Ou odiou? Não tem problema, dizem que o ódio é vizinho do Amor. Só me faça um favor: curta, siga e compartilhe o jornal Estância. E você terá muitas outras colunas para amar ou odiar.

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