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Entre Sons e Tons: Como vai a sua saúde mental durante a pandemia?

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Muitas coisas foram acontecendo, em relação a maneira como estamos expostos ao vírus, as notícias, as mortes, aos novos comportamentos. Saúde mental não é deixar de sentir coisas ruins. É não se deixar dominar por elas.

“Me sinto no Titanic. O barco vai bater e o capitão não desvia. Está afundando e o povo dançando, bebendo e se divertindo. Agora, chegamos na parte que já não tem bote para todo mundo”. Recebi do meu marido essa metáfora um dia destes e fiquei pensando em como está a saúde mental das pessoas, depois de um ano de convivência com a Pandemia. E no seu pior momento.

Desde quando começou essa guerra contra a COVID-19, muitas coisas foram acontecendo, em relação a maneira como estamos expostos ao vírus, as notícias, as mortes, aos novos comportamentos, e achei importante falarmos nesse espaço como estas questões afetam tanto a saúde mental, quanto a maneira que estamos seguindo, ou não, as recomendações de segurança.

Para dar luz a essa discussão, convidei para um bate papo a psicóloga clínica, Ana Carolina do Amaral Lima, pesquisadora e doutoranda em Psicologia Experimental e Análise de comportamento pela PUC-SP. Carol, como a chamo carinhosamente, iluminou a minha mente com a sua experiência no atendimento a pacientes atingidos pelas dúvidas desse novo normal que vivemos. Acompanhe:

Coluna – Qual a sua percepção sobre o comportamento das pessoas no atual momento da Pandemia?

Carol – O primeiro ponto é como o fato do Lockdown dar certo traz a ilusão dele não ser mais necessário. O que eu quero dizer com isso? Se observarmos os meses de setembro e outubro no Brasil, quando os casos tinham estabilizado, mesmo que o isolamento não tenha sido feito da maneira que ocorreu em outros países, ele foi importante para que a curva estabilizasse.

Naquele momento, ao relaxarem as medidas de proteção, as pessoas voltaram a aglomerar como se o vírus não existisse mais. Os casos controlados fizeram as pessoas terem a falsa percepção de que não era tão grave e não precisava fechar tudo. Causa uma sensação ilusória de que o perigo não é tão grande.

Outro fenômeno comum foi a perda da empatia e a sensibilidade em relação a situação do outro, principalmente quando não foi afetada diretamente pelo vírus, seja através de um parente adoecido ou por não contrair a doença, e têm contato com casos apenas por relatos da mídia ou de terceiros. (Elas) acabam tendo dificuldade de empatizar. Com a sensação de que não é uma ameaça tão perigosa assim.

Ana Carolina é psicóloga especialista em Análise do Comportamento.

Coluna – E porquê pessoas que aderiram ao isolamento no começo, hoje mudaram de atitude?
Carol –
O que eu vejo entre os meus pacientes? Muita gente que no início aderiu a essa consciência de isolamento, achava que as restrições iriam durar pouco tempo, que seria passageiro, e abriram “mão” de sua liberdade individual, sim. Trabalharam de casa, não faziam festa, não aglomeravam.

Com o passar do tempo, a falta de previsão pelo fim e o manejo conturbado nas esferas do governo em lidar com a mobilização da população, as pessoas foram criando uma certa indiferença ao aumento de casos e mortes, o que fez diminuir o olhar pelo bem coletivo, através da proteção individual.

“Talvez tudo bem se eu encontrar três amigos… e depois encontravam 10, depois 20 pessoas”…
É momento de perceber que não é momento de discutir a liberdade individual, como ir ao shopping sem máscara, pegar onda, ir à praia ou parque. Isso fere a questão da propagação do vírus, que é o grande foco da questão. Muitos não aceitam que a forma como lidavam com o mundo não funciona mais hoje. Criar novas estratégias que te façam feliz hoje deve ser o foco para se viver bem na Pandemia.

“O pouquinho que conseguir produzir, cuidar dos seus afetos, do seu lazer, da sua saúde já ajuda muito”, orienta Carol. Se empenhe em cuidar das suas caixinhas.

 

DICA PARA TENTAR AMENIZAR ESTE MOMENTO DIFÍCIL

Segundo Ana Carolina, não existe uma receita pronta para você lidar com esse momento tão difícil, em que temos que abrir “mão” de muitas coisas e pessoas que gostamos, por um tempo que não sabemos determinar. E essa falta de previsão nos faz sofrer muito, pois todos nós tínhamos um “padrão ouro” em nossa vida para nossas atividades: produzíamos determinada quantidade de coisas, interagíamos com o mundo de certas formas que não é possível agora.

Não é hora se de cobrar. Mas, mudar as nossas expectativas quanto ao mundo e nós mesmos.

Este momento é intenso e fora do comum. Todos estão na mesma situação.

“Para conseguir manter uma vida mais equilibrada e prazerosa eu oriento meus pacientes para que ‘metaforicamente’ dividam a vida em algumas caixinhas, e busquem e equilíbrio entre elas”.

É possível fazer um pouco de cada, e se sentir bem:

– CAIXINHA DA PRODUTIVIDADE: A quantidade que você produz no seu trabalho, na escola, na faculdade deve ser revisto neste momento. Se você está em home office ou teve sua jornada mudada em horário, ou para o virtual, procure se organizar para fazer o necessário para manter o essencial. “Você não vai conseguir fazer tantas horas de reuniões virtuais ou não vai conseguir falar com todos os contatos, mas vai finalizar o básico para suprir as suas atividades em dia”, orienta a psicóloga.

– CAIXINHA DO AFETO: Quais as ações que você executou no seu dia para trabalhar os seus afetos? Quanto tempo você se dedicou, com qualidade, para cuidar das pessoas que você ama, seja através de uma ligação ou uma mensagem? E de você? Como você está se cobrando e cuidando de suas emoções?

– CAIXINHA DO LAZER: E isso vale tanto para quem está mantendo o isolamento, quanto para quem está se adaptando a ele. Na maioria das situações, o jeito como você se divertia não é mais possível agora. Você não vai poder se divertir naquele “padrão ouro” de produtividade que falamos acima. Inclusive pode se sentir culpado por ter uma atividade de lazer. – “Não mereço assistir uma série que eu gosto se eu não produzir bastante no trabalho”- e com isso a tendência é acabar negligenciando essa área da vida, permitindo-se um momento de lazer apenas se você trabalhar bastante. A orientação é o equilíbrio: você não vai produzir o padrão ouro no trabalho, e tudo bem. Aquela sua vontade de aprender uma língua, aprender a pintar, fazer um quebra-cabeça pode ser uma alternativa agora. Explore os seus desejos.

– CAIXINHA DA SAÚDE: Siga as orientações da ciência quanto ao uso de máscaras, manter distanciamento e a higienização das mãos sempre que precisar sair de casa. Pratique atividade física. Tire alguns minutos de seu dia para tomar Sol, mesmo que seja da janela. “O pouquinho que conseguir produzir, cuidar dos seus afetos, do seu lazer, da sua saúde já ajuda muito”, orienta Carol. Se empenhe em cuidar das suas caixinhas.

CORRENTE DO BEM
Lembre-se que você não está sozinho. Este momento é intenso e fora do comum. Todos estão na mesma situação. E, apesar disso, cada um encontra uma melhor forma de lidar com esse momento. Não se compare com outras pessoas e tente encontrar o que mais funciona para você. Não se cobre 100% do tempo. Se você puder ajudar alguém, seja com doações ou com uma palavra amiga, faça. Ajudar nos traz satisfação. E é nisso você tem que se dedicar agora. Na semana quem vem vamos explorar mais esse tema, tão importante agora.

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