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Esperteza, não, ingenuidade
Com o título de “Golpe de Amor”, a jornalista Camila Brandalise, publica no UOL do dia 9 último, uma matéria, falando que em 2023, dos 51 casos (vale dizer, relatados) de sequestro, na maior cidade do país, 49 ocorreram por meio de aplicativos de namoro. As vítimas são homens.
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O app preferido foi o Tinder embora haja outros. Os dados são da Divisão Antissequestro de São Paulo e foram confirmados pela Secretaria de Segurança Pública.
Esse tipo de sequestro é o escolhido atualmente pelos meliantes, equivalendo a 96% dos casos atuais.
A modalidade é resolvida entre as partes quase que na mesma hora. O “modus operandi” é o mais simples possível.
Através de um app, uma mulher bonita é apresentada numa selfie a um virtual homem participante do aplicativo.
A maioria das vezes são fotos de modelos até internacionais para não serem reconhecidas, sendo que as mulheres apresentadas nada têm a ver com o sequestro e nem mesmo sabem que estão sendo usadas.
Quando a companheira de algum participante do grupo é suficientemente atraente, tudo fica mais fácil, porque além, da conversa pelo app, a vítima pode receber WhatsApps e outras formas de comunicação.
Acertado o encontro, a vítima é sequestrada e através do Pix, geralmente, o dinheiro é extorquido, ficando a vítima em poder dos bandidos até que se esgote o dinheiro disponível. Logo após, ele é solto. Nunca é exigido resgate, e, provavelmente, só recebe um tapinha nas costas, além de sorridente “muito obrigado pela sua burrice”.
Tudo muito simples, muito “fácil”, sem violência e com segurança. A criação do PIX, oferece a facilidade de acessar contas bancárias por aplicativos e a popularização dos apps de relacionamento alteraram e facilitam a estratégia das quadrilhas.
Como se vê, a bandidagem é esperta (é forçoso reconhecer isso) e a cada mudança de comportamento da sociedade, a praticidade de manuseio do dinheiro, a expertise deles atua “bolando” novas forma de ação. Geralmente “criativas”.
A questão não é o sequestro em si, nem a modalidade, é o por que homens caem nesta artimanha. Pode ser o fato de terem uma transa simples, com uma mulher espetacular, o que massageia o “ego masculino”, ou o espírito de aventura num encontro casual. Enfim, é preciso pesquisar isso.
Contudo, vale ponderar que este comportamento tão arriscado de encontros no absoluto escuro é fruto de nosso tempo, porque o amor, aquele velho amor de antes, vindo através de uma paquera, na qual duas pessoas se tornam conhecidas e confiáveis cada vez mais é preterido.
Aquele ritual da ansiedade de se conquistar uma mulher, está relegado ao plano da busca de uma relação carnal, descompromissada do sentimento e compromissos mais sérios.
Por isso, são os homens escolhidos como vítimas. Mulheres são mais cautelosas e românicas, não caem tão facilmente numa trama desta natureza.
É o nosso tempo, é o comportamento social, é a facilitação do sexo, enfim, é o momento que vivemos tão perto das coisas banais, superficiais que fazem com que os valores “antigos”, (os quais sempre os mais jovens ridicularizam) estes valores estão fora de moda.
Não tenho interesse em encontros desta natureza, nem vontade, porque meu amor é o daquele tempo, e muito menos idade para tanto, mas, às vezes, acabo rindo da desgraça alheia, afinal os mocinhos dos apps, ingênuos com ares de garanhão, devem preparar o caixa, já que não aprenderam a preparar o coração
Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante cristão.
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