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novembro

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Imutabilidade versus maleabilidade

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Já devo ter comentado nesta coluna que toda religião é Teândrica, isto é, Teos (Deus) pela sua essência e Andros (homem) pelo seu objetivo.

Nesta dicotomia, Teos é imutável porque o que seria de um Deus que mudasse ao sabor do gosto de cada época? Mas Andros não; é maleável, este sim, está sujeito ao tempo, à época, aos modismos e a cada instante, Andros, o ser humano, é diferente.

O grande dilema, portanto, das religiões é manter a imutabilidade divina coincidentemente com a maleabilidade humana.

— Leia também: Finalmente, o Relatório

Neste sentido, nenhuma religião foi tão engessada quanto à religião Católica Apostólica Romana. Mas, o Papa Francisco, o argentino Jorge Mario Bergoglio, o inteligente, humilde e corajoso Papa atual, mais uma vez vai ao ponto certo. E doe a quem doer.

O Vaticano apresentou um manual de instruções para realizar uma consulta “sem precedentes” entre seus fiéis em dioceses de todo o mundo. O próximo sínodo dos bispos, uma assembleia de bispos de todo o globo é um momento-chave de um pontificado e acontecerá em dois anos, em outubro de 2023.

Para se preparar para isso, no dia 10 de outubro, o papa Francisco lançou a primeira fase, que consiste em pedir às igrejas para questionar o maior número possível de crentes e membros da sociedade por seis meses.

E o que ele quer saber?
“Como está a religião Católica?”
“Que ideias os fieis possuem para que a sua religião seja melhor do que está sendo?”
“Que compromissos esta religião possui com os seres humanos deste início de terceiro milênio”?.

A finalidade é uma forma de o sumo pontífice fazer com que padres e bispos reflitam sobre a sua missão e os faça ir para o campo, para as ruas, ir onde está o fiel com seus problemas e agruras.

E mais, o documento preparatório apresentado sublinha “o pedido de maior valorização da mulher”, apresentado em sínodos anteriores. Mulheres e homens devem participar nesta ampla consulta “espiritual” da Igreja Católica, que será feita através de breves sínteses realizadas pelas igrejas locais.

sinodo - reprodução internet

No início do ano, o papa Francisco nomeou a freira francesa Nathalie Becquart subsecretária do sínodo dos bispos, a primeira mulher a ocupar este cargo e a primeira a ter direito de voto neste cenáculo tão fechado, no vetusto “clube do bolinha” da Igreja Católica.

No documento anterior a esta grande consulta aos fiéis, o Vaticano afirma que “será de suma importância escutar a voz dos pobres e dos excluídos e não apenas daqueles que ocupam um papel ou responsabilidade dentro das igrejas”.

E vai mais além ao afirmar que “A Igreja deve enfrentar a falta de fé e a corrupção até dentro de si mesma. Não podemos esquecer o sofrimento de menores e adultos vulneráveis devido aos abusos sexuais, abuso de poder e de consciência cometido por um número significativo de clérigos e pessoas consagradas”, destaca o texto.

E acrescenta: “Há muito que a Igreja não consegue ouvir suficientemente o clamor das vítimas. São feridas profundas, difíceis de curar e pelas quais nunca pediremos perdão suficiente”.

É um fato jamais visto, afinal uma instituição secular, que é tida como infalível, admite que precisa estar a par e passo com seu tempo.

Resta apenas saber até onde a igreja estará aberta para atender um clamor que fatalmente virá, a importância da mulher no sacerdócio, a possibilidade do fim do celibato, a distribuição das riquezas com os miseráveis.

Serão temas a serem cobrados, e aqui estará o verdadeiro limite da coragem deste papa humilde, mas significativamente preocupado com a sua igreja, o que há tempos não se via, se é que em algum tempo foi visto na igreja de São Pedro.

Analisar a si mesmo é um ato de coragem e os fiéis deverão ser honestos em suas respostas, tanto quanto os sacerdotes deverão ser honestos em encaminharem estas respostas ao Vaticano, sejam elas quais forem.

Sérgio Motti Trombelli é professor universitário
Pós Graduado em Comunicação e Palestrante

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