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Artigo: Na era da economia do conhecimento, andar de carro está fora de moda

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Por Marcio Aurelio Soares

Não faz muito tempo, comprar o primeiro carro talvez fosse mais importante do que comprar o primeiro imóvel. Era o sonho realizado, de conforto e ostentação. Muitos, sequer, retiravam o plástico amarelo que vinha de fábrica para a proteção de seus bancos. Lembro de minha tia Alila, muito querida; quando meu pai comprava um carro novo, era a primeira a ser visitada. Puro orgulho.

Depois de décadas reinando na classe média, os automóveis, cada vez mais, vão deixando de habitar nossos sonhos. Pesquisas internacionais recentes têm mostrado que na geração pós 1995, 60% usam o transporte público e 33% preferem os serviços de aplicativos ou táxis, mesmo que 65% deles tenham alguém na família com carro na garagem.

No caso da geração nascida entre 1984 e 1994, quase 70% deles optam pelo transporte público e a metade prefere o Uber ou o táxi.

A carteira de motorista não tem sido mais o prêmio para quem entra na universidade. Aqui no Brasil, as montadoras que não fecharam as portas estão com 50% de ociosidade em relação à sua capacidade instalada. Uma das justificativas é a inflexão do consumo causada pela pandemia; outra, o ambiente político instável, desfavorável à economia.

Acontece que os hábitos estão mudando. O que antes exigia deslocamento por automóvel, hoje se faz remotamente; o consumo está se saturando, e o planeta está esgotando seus recursos. A palavra de ordem neste terceiro milênio é sustentação, não mais ostentação. Associado a isso, a riqueza vem sendo criada a partir de uma economia do conhecimento. Como diz o prof. Ladislau Dowbor, em seu mais recente livro, “O Capitalismo se Desloca”, disponível para download gratuito em www.dowbor.org, “passamos da terra à máquina e da máquina ao conhecimento. O grande eixo transformador é que a tecnologia é hoje o principal fator de produção”. Não é à toa que entre as empresas de maior valor de mercado no mundo est&at ilde;o o Google, Apple, Microsoft, Amazon e Facebook. Os tempos de vendedores de enciclopédia acabaram. Faz tempo. Mas parece que os nossos governantes ainda não se aperceberam disso e continuam analógicos. Por quais setores da sociedade que transitarmos, vamos observar descompasso com o “pensar” no futuro.

Aqui no Brasil, nossas ruas continuam apinhadas de carro, estacioná-los passou a ser uma aventura. Mesmo que nas cidades de porte médio, como Santos, grande parte das pessoas vai ao trabalho a pé, de bicicleta e se utilizando de carros de aplicativos. Mas os ônibus continuam ocupando um grande espaço das vias, com o preço de suas passagens acima do poder de compra de seus usuários, ainda que a prefeitura local o subsidie, e poluindo o meio ambiente com a queima de diesel, um combustível fóssil e não renovável.

Administrar uma cidade exige diagnóstico e planejamento. Uma alternativa, neste momento, para cidades planas, é investir no deslocamento das pessoas por triciclo elétrico, os famosos tuk-tuks portugueses, ou riquixás, como são chamados na Índia. São veículos que utilizam chassis de moto e podem transportar duas pessoas e mais um pequeno bagageiro. Com um custo muito mais baixo podem ser uma alternativa de deslocamento em cidades planas.

Profissionais desempregados que retiram seu sustento trabalhando mais de 10 horas por dia como motoristas de aplicativos podem receber crédito popular com juros baixos e serem donos de seus negócios. O trânsito, a economia local e o meio ambiente agradecem.

* Marcio Aurelio Soares é médico.

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