Colunas
O pão nosso de cada dia
O empoderamento feminino, embora mais do que justificado, veio tardiamente. Contudo, tem conseguido ser o mote da propaganda política da eleição de 2022, algo que nunca se viu. Todos os partidos falam das mulheres, as enaltecem, chamam para a luta, falam para que se filiem, entrem na corrente para mudar o país, etc, etc, etc.
Justo e mais quem necessário porque a visão feminina é diferente da do homem. Enquanto o homem tem foco, a mulher tem amplitude e isto, a ciência já demonstrou. E o que mais precisamos é amplitude para podermos descobrir um caminho que faça nossa Pátria ser que ela mais do que merece, isto é, a contribuição feminina é mais do que necessária.
Dos 513 deputados federais, só 77 mulheres. Uma desigualdade injusta e perniciosa aos destinos da pátria. A Câmara Federal é machista, cheia de homens abastados (salvo exceções), um verdadeiro “Clube do Bolinha” que não deu certo, aliás, não está dando certo há muito tempo. É preciso o olhar feminino na formulação das leis.
— Leia também: Um hospital que há 479 anos vem cuidando de pessoas, realmente entende de saúde
Contudo, para a mulher comum, este tema como apresentado na TV soa de maneira abstrata. O que pensa sobre ideologia a mulher da favela cujas águas levaram tudo que tinha? O que pensam as mulheres que no amanhecer olham para as prateleiras do lar e nada veem para por na mesa e aplacar a fome dos filhos? Para a mulher brasileira, a questão é outra: antes da política, é a sobrevivência.
Antes da ideologia, da participação política é preciso aplacar a fome dos que realmente estão famintos neste país. Depois, tudo bem, vamos à luta política, vamos juntos melhorar o país.
Por isso, hoje apenas para mostrar o que digo vou apresentar uma lista dos valores de aumento da alimentação que se põe à mesa no Brasil.
A lista pode estar defasada, um pouco a mais um pouco a menos, mas basta entrar o Google e ver que todas batem mais ou menos nos mesmos valores, escolhi uma e fiquei com ela.
Vamos lá.
Nos últimos 12 meses, o único item da cesta básica a registrar queda nos preços é o arroz, que acumula queda de 11,53% entre os meses de abril de 2021 e 2022.
Para o restante, as altas variam: 8,06%, no caso das carnes, e até 103,26% para o tomate. O segundo produto que mais encareceu foi o café, que subiu mais de 67% no período.
Confira todas as porcentagens verificadas pelo IBGE no último ano:
- Tomate: 103,26% – subgrupo “tubérculos, raízes e legumes”: 69,90%
- Café moído: 67,53% – subgrupo “bebidas e infusões”: 20,23%
- Batata-inglesa: 63,40% – subgrupo “tubérculos, raízes e legumes”: 69,90%
- Açúcar refinado: 36,99% – subgrupo “açúcares e derivados”: 18,54%
- Óleo de soja: 31,53% – subgrupo “óleos e gorduras”: 26,40
- Leite longa vida: 23,37% – subgrupo “leite e derivados”: 18,07%
- Farinha de trigo: 23,23% – subgrupo “farinha, féculas e massas”: 16,28%
- Banana: até 17,36% (banana-prata) – subgrupo “frutas”: 17,49%
- Pão francês: 13,09% – subgrupo “panificados”: 13,83%
- Manteiga: 10,05% – subgrupo “leite e derivados”: 18,07%
- Feijão carioca: 9,40% – subgrupo “cereais, leguminosas e oleaginosas”: -7,19%
- Carnes: 8,06% – destaque para fígado (19,35%), contrafilé (15,66%) e alcatra (13,17%)
Entre janeiro de 2021 e dezembro do mesmo ano, a Petrobras aumentou 11 vezes o preço do combustível fóssil nas refinarias. Nos postos, o preço da gasolina subiu 44% e foi um dos maiores responsáveis pelo aumento da inflação, que ficou em 10,06% de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
O que a mulheres, por justiça e premência, querem saber, antes do voto e da participação delas, é o que os partidos que chamam por elas precisam fazer de modo que estes preços abaixem e de fato a mulher comum possa comer e alimentar seus filhos neste país tropical onde sem plantando tudo dá.
Antes da luta, o pão nosso de cada dia.
Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante
You must be logged in to post a comment Login