Regional
Por que as crianças usam tantas telas, mesmo com alertas sobre o prejuízo desse hábito?
Roberta Alonso (*)
Ultimamente tem sido comum, a divulgação de estudos sobre aumento do uso de telas pelas crianças e seus prejuízos, ao mesmo tempo é cada vez mais raro ver uma criança sem um gadget nas mãos. Se somos capazes de entender o quanto isso faz mal para o desenvolvimento infantil, o que explica o crescimento desse número de usuários?
Bebendo da fonte do Behaviorismo, sabemos que o comportamento só se repete e aumenta sua frequência, quando recompensado, ou seja, como nós adultos, figuras de referência, estamos recompensando as crianças ao uso abusivo de telas?
Sabemos enquanto adultos, o quanto é fácil perdermos a noção do tempo navegando na internet. Esse efeito pode ser mais prejudicial ainda em um cérebro em formação, condição natural da infância.
É possível que o aumento desses usuários seja fortemente influenciado pelo comportamento dos adultos, ou seja, nosso comportamento reforça o uso das telas e o uso das telas pelas crianças também nos reforça gerando um ciclo vicioso e dependente.
Dessa forma, é importante não nos esquecermos que somos parte fundamental para a redução desses dados.
Quando nossas crianças estão nas telas, somos reforçados pelo silêncio, pela pouca argumentação, pela não interrupção, pelo pouco esforço mental em responder perguntas, ou seja, quando elas estão nas telas, nos beneficiamos também.
Encerrar esse ciclo é assumir que precisaremos mudar. Precisaremos falar “não” e lidar com a consequência de um cérebro imaturo com baixa tolerância à frustração, assumir que será preciso usar mais o “pause” do controle remoto, ao sermos interrompidos enquanto assistimos nossa série predileta depois de um dia cansativo de trabalho, assumir que faremos mais esforço cognitivo planejando uma atividade de interação com qualidade. Sim, temos nossos ganhos secundários quando as crianças usam as telas.
As telas em uso excessivo e precoce, têm levado embora o tempo de qualidade em família. As crianças têm apresentado prejuízos em linguagem, socialização, tolerância à frustração, entendimento de causa e consequência, persistência, percepção de tempo.
No plano da realidade, uma plantinha nasce depois de alguns dias plantada e regada, diferente de apertar um botão em uma tela plana. O alimento passa por vários processos até chegar saboroso no nosso prato, ou seja, muito distante de recebê-lo mão de um entregador depois de apertarmos alguns comandos no aplicativo de delivery.
Ajudar um desenvolvimento infantil saudável, passa pela importância de revisar e melhorar o nosso próprio comportamento.
(*) Roberta Alonso – Psicóloga e neuropsicóloga infantojuvenil. Autora do livro infantil “Pó de Sim” (Asinha) e coautora das obras “Manual da Infância”, “Disciplina e Afeto” e “Orientação Familiar – vol. 2” (Literare Books International). Instagram: @ecoandopsicologia
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