No artigo anterior fizemos uma pergunta: “Neste clima de incertezas, fica novamente a pergunta: que tempo é esse?”
Na verdade, são duas indagações, o clima de incerteza e o tempo atual. Se não partirmos das incertezas não conseguiremos entender este tempo em que vivemos.
O mundo nunca foi estável. Talvez, em algumas ocasiões, uma estabilidade maior, mas nunca estável de fato, nem na Idade Média que durou mais de mil anos. Naquele tempo, a força da igreja impedia qualquer mudança, mas mesmo assim, inúmeras sociedades herméticas foram criadas, muitos pensadores, muitas doutrinas, secretamente, ocorreram intensamente.
A partir de então, as coisas ficaram claras e o que se viu foi o escancaramento das incertezas que dominaram a vida do ser humano ao longo dos tempos. Sempre fruto das mudanças, vezes mais lentas, vezes mais rápidas, mas sempre a mudança caracterizando a marcha da humanidade. Já falei aqui nesta coluna que a única coisa que não muda é a mudança, afinal ela sempre existe.
Então. Que tempo é esse em que vivemos?
»» Leia também: Que tempo é esse? II
É um tempo de imensas transformações. Talvez aquilo que estamos dizendo aqui em uma semana não será mais. Neste clima, o que nos sobra, portanto é a incerteza de como será o amanhã.
No cotidiano de agora, podemos dizer que uma leva substancial de profissões, nos próximos anos muito provavelmente, estarão extintas. Listamos as 20 que mais estão correndo riscos conforme as projeções dos especialistas: contador, operador de telemarketing, porteiro, atendentes em geral, caixa de supermercado, vendedor no estilo atual, cartógrafo, arquivista além de uma gama ainda maior que podemos achar no Google.
O Institute For The Future, que analisou os impactos dessas tecnologias até 2030/2035, baseado em uma pesquisa, que contou com a participação de 3.800 líderes de negócios de médias e grandes corporações em 17 países, incluindo o Brasil, estima que 85% dos trabalhos que existirão serão novos. Neste clima, o que devem os jovens estudar e se preparar para o mercado de trabalho do amanhã?
Além disso, tudo está realmente em crise. A moral, o casamento oficializado, a escola, a culatra, até o entretenimento (os telefones celulares acabaram com grande parte deles).
Na vida política, a forma de ser que comandava a vida de todos, era a democracia que está deixando de existir e o regime que vem vindo atrás dela ainda é incerto. A tecnologia cresce demasiadamente e um chamado mundo novo começa a se descortinar – não será, para nós, mas nossos filhos e netos viverão esta chamada “maravilha” do futuro.
A economia do mundo vive dramas e mais dramas para se consolidar. Até o dinheiro tende a desaparecer, sendo trocado por uma moeda chamada “digital” como o bitcoin. Com o tempo, não se terá carteira com notas ou moeda no bolso.
Enfim, tudo muda, (melhora?), apenas uma coisa está estagnada: a espiritualidade, a fé, a religiosidade, os valores morais que a sociedade, há dois mil anos, vem seguindo, e nos conduziram até hoje porque tem dado deu certo. Agora, sem eles, como será?
O ser humano tem uma tendência de buscar o imediato, e a vida futura, como o nome diz, é futura, está longe, então as pessoas preferem a vida de agora. O amanhã não está na cogitação dos mortais de hoje.
Só que o agora passa rápido e somente o futuro é o que nos espera. Por isto, este termo é instigante, e vem separando o ser humano da espiritualidade, não mais se preocupando com o que virá.
É um erro, porque o agora é efêmero, afinal, devemos nos voltar para dentro de nós mesmos e buscar a centelha viva da espiritualidade divina que habita em nós. A única coisa nesta dupla constituição humana – material e espiritual – é imortal, vence o agora e nos conduz a um amanhã, infalivelmente.
Se você, leitor (a) amigo (a), me perguntar o que podemos fazer para vencer este tempo em que o humano desvia sua atenção do eterno para o passageiro. Eu responderei, nada. Porque as mudanças não dependem de você. O que depende de você é você, sua família seus entes queridos.
Assim, mais do que nunca, um tempo como este exige de nós a espiritualidade que todos temos, resta encontrá-la em nós mesmos e fazê-la crescer. Você não pôde mudar o mundo para melhor, você pode mudar apenas a si mesmo para melhor.
De resto, este tempo aloucado, bem ao ritmo da tecnologia, ciência, por mais fascinante que aparente, precisa moderação interior por parte daqueles que sabem que a espiritualidade é fundamental para o futuro, não apenas a ciência e a tecnologia
Ambas têm muitos conceitos provisórios em nome dos quais se mata, se destrói, escraviza, e logo depois o pressuposto não mais existe. Ainda mais agora que a disputa pela hegemonia mundial começa a ser acesa com os trumpismos da vida, cujo desfecho desta insanidade pode caminhar para a extinção da própria humanidade.
Então, por que este desespero pelo que pode existir e logo, logo não existir mais. A imortalidade que você possui não é do corpo, e sim da alma. Ela é você, e nesta unidade dúplice, o corpo é acessório finito que a cada vida vem diferente do que foi apenas para servir de roupagem ao espírito.
Assim, respondo a pergunta que fiz: “Que tempo é esse?”
É o tempo da formatação das grandes transformações que o mundo futuro terá na vida material e o que podemos fazer é cuidar da verdadeira vida futura, a espiritual. Assim, não se deixe levar, viva para seu interior e reze para que um mundo melhor exista como herança do homem moderno para a humanidade que virá, pois nela estarão nossos filhos e netos e os que vierem depois deles.
Sérgio Motti Trombelli
É professor universitário e palestrante cristão
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