Nosso artigo anterior acabou com a seguinte afirmação: “A vida que se vive não é somente a materialidade que temos, mas a espiritualidade que carregamos. Sem espiritualidade não estamos preparados para viver a vida.”
Toda vez que falamos em espiritualidade pensamos que ela é um estado de consciência obrigatoriamente atrelado a uma religião. Isto é um engano.
A espiritualidade, eventualmente, pode estar ligada a uma religião ou não. Existem pessoas religiosas que não possuem espiritualidade nenhuma, assim como existem pessoas com espiritualidade que não professam nenhuma religião.
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Por aqui dá para se ver que espiritualidade é uma dimensão maior do que a prática religiosa. Uma pessoa espiritual é aquela que além de acreditar na existência do espírito como um aspecto superior do ser, vai além da vida material e que ao balançar os dois pesos – matéria versus espírito – entende o espírito como o componente principal e superior a tudo que existe no ser humano.
Isto é, somos mais do que o corpo. Não somos corpos que possuem um espírito, mas sim, somos espíritos que habitam um corpo. E o fazemos temporariamente, enquanto estamos nesta vida que vivemos agora.
Por esta razão é que a espiritualidade ganha uma dimensão maior, capaz de transcender o tempo. O corpo perece; o espírito perdura, pois é imortal.
Com isso, o ser humano, esta unidade dúplice vive uma dúvida interior que o assola, qual seja, a de que diante da extrema valorização do corpo, da matéria, tudo acaba quando o corpo desaparece? Desta forma, o que mais deveria nos importar, aquilo que sabemos que existe, a materialidade, ou aquilo que não conseguimos aquilatar, o espírito?
Para mim, é o espírito, obviamente.
Afinal, questões como: ‘por que estamos aqui’, ‘de onde viemos’ e ‘para onde vamos’, são dúvidas que a materialidade não consegue responder. Há uma razão superior para que a vida exista, o mundo exista e o ser humano exista como parte integrante da criação divina.
E aqui está a temática que perpasse esta sequência de artigos. Afinal, que mundo é esse? Que ser humano é este? Que existência é esta que todos estamos conjuntamente vivendo? E, sobretudo, aonde ela pode nos levar?
O ser humano é produto de uma ancestralidade, do meio e do momento histórico.
A ancestralidade é a nossa índole como povo. O brasileiro possui características específicas que o diferenciam das demais nações. Aliás, já fomos conceituados por Sérgio Buarque de Holanda como sendo cordiais; a cordialidade é uma marca brasileira. Aceitamos todos os que aqui queriam viver, nos miscigenamos com aqueles que aqui estão e formamos uma imensa família nacional.
O meio é a terra que nos acolhe. Ela pesa na medida em que ele nos determina, pela cultura, e tudo que esta pode nos unificar: língua, economia, gastronomia, enfim, este é o Brasil, nosso espaço, nossa terra.
O momento histórico é, na verdade, nossa maior preocupação atualmente, pois, para alguns, ele deve transcender fronteiras e unir diferentes países na busca por uma única nação universal.
O momento histórico é responsável pelos valores globais que, de época em época, vão homogeneizando grande parte dos habitantes deste orbe. Assim, tivemos tempos com o modo egípcio de ser, depois o romano, até chegarmos a hoje, quando a cultura do Tio Sam se impõe a praticamente todo o mundo ocidental.
O problema é que depois da posse de Trump, a já tradicional imposição da indústria cultural americana vai crescer, conforme os discursos do presidente estadunidense. Isto é, os valores começaram a ser outros, e muito mais agressivos.
Deportação em massa de pessoas, imposições comerciais, ameaças de uso da força, dominação econômica, enfim, a índole de supremacia do povo americano achou um comandante que acredita nessa supremacia, portanto, o que sairá da cabeça trumpista ninguém pode sequer imaginar.
Por isso, este momento é perigoso. Há uma nova ordem mundial sendo ensaiada, cujo final pode ser tenebroso, e isto, para aqueles alienados que nada sabem ou querem saber (“tá de boa”) e será “tudo como dantes, no quartel general em Abrantes”.
Mas, para quem pensa, e não muito, apenas um pouco, os destinos do amanhã podem ser terríveis.
Um aviso sério. Nesta semana – o assunto foi matéria nas grandes redes de TV, jornal e rádio – o chamado Relógio do Juízo Final movimentou seus ponteiros. A história simplificada dele é que, em 1947, alguns cientistas inventaram um relógio, cujos ponteiros caminham conforme caminham as ameaças sobre a paz mundial. A data limite é meia-noite, e os ponteiros estão chegando lá.
Na terça-feira, os cientistas que “controlam” o relógio adiantaram mais um segundo. E foi feito em frente as câmaras do mundo todo. Agora falta pouco, e cada passo em falso, quer nas ameaças de conflitos de guerra mundial, quer no descaso com a natureza, ou com a fome, as doenças podem movimentar os ponteiros mais um pouco.
Neste clima de incertezas, fica novamente a pergunta: que tempo é esse? Haverá um final feliz, ou os ponteiros chegarão à meia-noite? O que nos resta, então, fazer?
(Continua)
Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante
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