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Só Para Pensar – Sergio Trombelli

Santa Casa santa, outra vez

Publicado

em

Sérgio Motti Trombelli

Sempre acreditei que os profissionais que trabalham com o público têm que gostar de pessoas. Isto é, têm que gostar de gente, sem o que seu desempenho profissional nunca será satisfatório.

»» Leia também: Sociocentrismo

Aliás, quem não gosta de uma vendedora em qualquer loja sendo agradável, prestativa e suficientemente capaz de lhe atender bem? Todos gostamos. Da mesma forma, quando um motorista de ônibus, sabendo que pode partir, espera um instante a mais para que quem vem correndo suba no coletivo e não perca o dia de trabalho? Quem não reconhece, neste gesto, o seu apreço por gente?

Isto sem contar garçons atendendo em restaurantes ou funcionários públicos (especialmente!) que atendem com presteza e não complicam a vida do munícipe. Enfim, a vida seria bem mais fácil e prazerosa se as pessoas com as quais nos relacionamos no dia a dia se sensibilizassem mais com o outro, o próximo, que é gente igual a toda gente. Isso serve inclusive para nós mesmos, quando estamos atendendo os outros.

Contudo, em nenhum lugar, onde esperamos encontrar gente que gosta de gente, isso é mais importante do que na área da saúde. De fato, quem precisa de bom atendimento em casos de doença são pessoas cujo ponto de partida já é fragilizado. E na ponta, onde estão os profissionais que atendem, chegam mais fragilizados ainda.

E por que estou dizendo isso? É que, nestas andanças da vida, quis o destino que eu passasse três vezes pela Santa Casa de Santos, e aquilo que eu vi, vivi e senti foi inesquecível.

Alguns indagariam: “Ora, mas se pode dizer ‘inesquecível’ se referindo a um hospital?” Por que não? Normalmente, quando se pensa em hospitais ou Santas Casas, imagina-se que tudo ali seja sofrimento, dor e morte. Esta não é a função dos nosocômios. Prefiro, então, entendê-los não como locais de doença e morte, mas sim como espaços de cura e vida. Para isso é que existem.

Ademais, costumam dizer por aí que o ótimo é inimigo do bom. Isto é, já que atingir o ótimo é impossível, devemos nos contentar com o bom. Errado. O inatingível será sempre o perfeito, mas a perfeição é um atributo divino, então nos contentemos com o que é humanamente possível.

O ótimo é uma das possibilidades humanas, e deve ser buscado sempre porque é possível alcançá-lo, e até superá-lo se der, porque depois dele poderemos alcançar o espetacular, ou o fabuloso, ou o sublime e assim vai.

Nas três vezes em que naquela Santa Casa santa fui ter, pude sentir que lá o caminho continua sendo o da superação e crescimento, em busca do ótimo.

E a terceira vez ocorreu na semana passada.

A minha doença em si não é de cogitação desta matéria. Mas afirmo que não a tenho mais. O que me importa dizer é que o atendimento, desde a direção clínica, passando pelos médicos, pela gestão de enfermagem, as técnicas de enfermagem, e todos que empurravam as macas, cadeiras de rodas, o faziam com carinho, pelos corredores de uma Santa Casa que faz jus ao nome de “Nova”, agora mais linda, moderna, sempre gigantesca, fruto dos 481 anos de vida e trabalho, varando o tempo com o mesmo ideal de atender… gente.

De outra parte, acredito que críticas devem ser sempre feitas em particular e elogios em público. Assim, esta matéria serve para testemunhar publicamente que todos por onde passei naquela casa, a saber: enfermaria amarela, exames de imagem, os colaboradores que atuam na internação do 4º andar A, quer pelas enfermeiras atendentes, quer pelos médicos, me fizeram ver que ali temos gente que gosta de gente.

E quando isso acontece, leitor amigo, estes mesmos apaixonados pelas pessoas são os apaixonados pelo que fazem e, por fazê-lo com paixão, o fazem bem, com vontade, com espírito solidário.

Semana passada, nesta mesma coluna, falei sobre a importância da sociedade como um todo, e foi o que pude comprovar “in loco”. Porque tanto melhor será a sociedade quanto melhores forem os indivíduos que a compõem, principalmente na saúde, porque esta cuida da vida, e a vida podemos dizer que é a única coisa que de fato é de cada um de nós, o resto não nos pertence.

Assim, há quem esteja colaborando para que a sociedade na Baixada Santista seja cada vez melhor. Há quem não tanto. Faz mal não, “s’embora”, deixa a caravana passar, porque a vida sempre sabe reconhecer quem de fato é gente que gosta de gente de verdade.

Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante cristão.

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