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novembro

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Sem plano de voo

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Todo avião, aqui e em qualquer lugar do mundo, quando inicia viagem, tem plano de voo. Isto é, um trajeto estudado, a altitude, o que vai ser feito, enfim, tudo planejado, por isso que todo avião tem um navegador junto do piloto e copiloto na cabine do avião.

Por conta disso, é que a expressão plano de voo se tornou comum para todos aqueles que precisam dirigir suas ações. Como no caso da imprensa, por exemplo. Quais serão as matérias deste programa, ou edição? Quem faz o texto? Quem serão os entrevistados? Onde estarão os repórteres, e assim por diante.

A grande imprensa brasileira sempre foi partidária de uma ausência total do plano de voo. Ela segue o momento. Ah, surgiu um UFO lá na Amazônia, então o tema agora é UFO, e dane-se o resto.

— Leia também: Um novo herói

Will Smith dá um trapa (bem dado por sinal) no âncora do Oscar, todos falam disso sem parar, se é certo ou errado, quais as causas da doença da esposa dele que a fez perder cabelo, chamam-se os especialistas e blá-blá-blá. Se alguma modelo aparece com um biquini muito curto, onde as partes do corpo ficam à mostra, então dá-lhe peitos e bundas em todas as TVs, e assim vai.

Há cerca de um mês o assunto era a Covid-19. Às vezes com mais de um infectologista no mesmo programa de TV ou rádio. Aí, veio a guerra da Ucrânia, e o voo virou outro. Não mais infectologistas, mas especialistas em armamento, diplomatas, correspondentes de guerra, experts em economia, enfim, mudou-se o plano de voo das TVs. Mas, agora, isto também está ficando de lado.

Repentinamente nesta semana, mais guinadas bruscas na pauta, só que com outros players: os políticos brasileiros e as prováveis chapas, e composições e patati-patatá…

Onde foram parar os infectologistas? Os peritos em armamentos? Sumiram, evaporaram. Agora quem comanda são os comentaristas políticos da TV, rádio, jornais e revistas. Aliás, muitos destes “comentaristas” apenas dão “pitacos” em vez de fazer análises, sempre citando que “minha fonte” (sem se saber quem são) me disse isto ou aquilo.

É claro que o assunto é importante, afinal diz respeito ao nosso futuro e nós por aqui também daremos “pitacos”. Ademais, é gostoso ver como se comportam aqueles que querem comandar o país, ou para quem vão as verbas bilionárias que rolam daqui e dali, os pedidos de cassação e as andanças de políticos, candidatos outsiders que não sabem nada de política e dançam conforme as promessas que recebem.

Tem um aí, que deitou e rolou na mídia como moralista durante anos e agora abre mão da moralidade e muda de partido sem aviso algum ao presidente da sigla, roda daqui e dali. Qualquer dia vai acabar sendo vice de Eymael !!!

No Brasil, estão morrendo de covid cerca de 190 pessoas por dia. Isto por mês soma um número em torno dos 5.700 óbitos. Na Ucrânia morreram cerca de 2.500 pessoas e isto virou matéria, entrou no plano de voo da mídia.

Tudo bem, só que, quem fala aos brasileiros sobre covid, ou ela não existe mais? Quem dá conselhos sobre a 4ª. dose ou não, ou quem repete os cuidados que todos temos que ter.

Muitos brasileiros nem se lembram em quem votaram na última eleição, vão se lembrar dos cuidados da covid? Tem espaço para tudo na mídia, menos o esquecimento.

E mais, Roquete Pinto, quando trouxe o rádio para o Brasil nos legou uma frase lapidar : “O Rádio tem que dar ao brasileiro não aquilo que ele quer, mas sobretudo o que ele precisa” e isto vale para todas as mídias.

Enfim, a mídia voa ao sabor do vento momentâneo das coisas. Claro que o que ocorre no dia a dia, o “News” como dizem os americanos, isto é o novo, importa e muito. Mas aquilo que foi e ainda não acabou, também importa e igualmente muito.

Estamos à deriva, ao gosto do editor chefe de cada programa jornalístico de TV e todos assistem, afinal, a imprensa é chamada de 4º. poder porque ela é a dona dos fatos e com isso é fiel às verdades. Será?

Eu duvido, por isso questiono sempre. É um velho hábito, afinal, questionar é uma boa forma de descobrir a verdade nas entrelinhas da ideologia dominante.

Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante

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