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Sociedade e Progresso I
“O ser humano é um animal gregário”
Aristóteles
O ser humano só subsiste em sociedade, daí se ver que a sociedade não é aleatória, o ser humano “pensou” isso. Em outras palavras, a sociedade é uma escolha, imposta, sem dúvida, pela necessidade de subsistência, mas de fato uma escolha.
De maneira bem simplificada, no princípio, no mundo dos seres primitivos, se não fosse o grupo, o ser humano não teria subsistido, já que isoladamente ele teria sido exterminado por espécies mais poderosas da cadeia alimentar. Foi o grupo que possibilitou caçar junto para se alimentar, construir cabanas rudimentares contra o frio e assim sucessivamente, o que permitiu que a espécie humana vivesse e se tornasse a mais poderosa das espécies.
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Claro que há toda uma história bíblica que determina esta supremacia humana, fazendo com que Adão já nascesse pronto, senhor absoluto de tudo que havia num paraíso que a Bíblia descreve, convenientemente escondendo os perigos de então. Afinal, teria sido bom saber como Adão se livrou sozinho do Tiranossauro Rex, por exemplo.
Nos tempos primitivos, a inteligência humana era rudimentar, não desenvolvida, daí somente unindo esforços é que o grupo conseguiu perdurar no mundo. Depois veio a linguagem e a observação perspicaz da natureza: a cria dos animais, plantas que alimentavam, e aí o ser humano foi construindo um saber, lento, mas progressivo.
Kardec afirma que “Os espíritos foram criados por Deus ignorantes e iguais”, cuja função era evoluir. Junto dos demais, os homens e a mulheres evoluíram e a sociedade começou a dar os primeiros passos.
Na Língua Portuguesa o sufixo “dade” é acrescido a adjetivos para formar substantivos que expressam a ideia de estado, situação ou quantidade, desse modo temos “igual + dade = igualdade”, estado do que é igual, “leal + dade = lealdade”, estado de quem é leal, “mal + dade = maldade”, e assim sucessivamente, até social + dade, sociedade, situação do que é social.
Milênios e milênios e mais milênios após, a sociedade conseguiu se estruturar e se estabelecer, criou normas, princípios que redundaram em leis, de modo a permitir a convivência comum. O fazer coletivo proporciona unidade social. Quando temos, padarias, transporte, escolas, fábricas, hospitais, shoppings, polícia, escolas, hospitais, cada um dos indivíduos envolvidos faz esta engrenagem rodar e temos a sociedade organizada.
Assim, o comportamento humano não é resultado de instintos, mas fruto de normas que orientam suas ações e a organização social do grupo, as quais são acumuladas historicamente, e também podem ser modificadas ao longo do tempo de acordo com as necessidades de cada sociedade em especial.
É a sociedade que nos faz ser humanidade, onde as necessidades biológicas, psicológicas, econômicas, espirituais, se tornam comuns de modo a satisfazer os entes envolvidos, estimulando todos a produzirem trocas quer cognitivas, morais, econômicas, religiosas e isso nos proporciona interações como seres iguais.
As características fundamentais da sociedade estão por isso, embasadas na unidade de princípios e valores, e na diversidade de convivência entre os iguais e os contrários. Daí grupos diversos, ao longo do tempo fizeram associações diferentes e com isso as nações foram criadas.
Emmanuel nos ensina que:
“Nenhum homem dispõe de faculdades completas e é pela união social que eles se complementam uns aos outros […] são feitos para viver em sociedade e não isolados.”
Daí a sociedade ser criada pelos indivíduos, ou então modificada por eles, por isso ela existe para o indivíduo, e todos trabalham para mantê-la, possuir objetivos comuns, fazendo com que eu esteja no outro e outro esteja em mim.
Assim, entre as formas de sociedade, a família é a mais importante, provavelmente, a mais perfeita, pois além do interesse material existe o amor entre os seus membros.
Ainda Emmanuel, “Não há medida para o homem, fora da sociedade em que ele vive. Se é indubitável que somente o nosso trabalho coletivo pode engrandecer ou destruir o organismo social, só o organismo social pode tornar-nos individualmente grandes ou miseráveis”.
Por este motivo, o Estado é fundamental para o fortalecimento da sociedade. Neste sentido, a vida política é a grande responsável para estabilidade do organismo social. A formulação das leis, a distribuição mais equitativa possível dos recursos e dos bens sociais a todos indistintamente, além da força para manutenção da ordem nas ações, forças estas tanto físicas quanto morais, legais, todas embasadas numa constituição que seja justa e obedecida, faz da sociedade, de fato, uma nação.
O problema é que esta ordenação e comando é feita por seres humanos, e por mais que as constituições possam ser perfeitas, os seres humanos não são. Daí a fragilidade do ser, muitas vezes, conduzir aqueles que comandam as ações, e assim acabam fugindo da ética, fazendo da corrupção uma norma que deturpa toda esta história milenar que nossa espécie lutou tanto para criar e conduzir até os dias de hoje.
Com isso, o próprio homem depois de tanto esforço para constituir a sociedade, contribui para que o progresso dela acabe acontecendo com a justiça social que lhe seja pertinente.
Mas, fiquemos por aqui, e quer pela falta de espaço ou não “encher mais o saco” do leitor, o progresso será uma outra história que acabaremos por fazer na coluna da semana que vem.
Sérgio Motti Trombelli é professor universitário,
Pós graduado em Comunicação e palestrante
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