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Coluna: The day after

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As eleições neste último domingo mostraram aos brasileiros que temos dois líderes populares de grandeza respeitável. A vitória de um – Lula – com mais de 60 milhões de votos e derrota de outro – Bolsonaro – com mais de 58 milhões, mostram que essas duas lideranças fizeram história em nosso país, num pleito acirrado como nunca visto antes na nossa república e vão continuar fazendo história na vida política.

Junto disso, vale ressaltar que foi o embate de duas filosofias políticas diferentes. Uma conservadora, outra progressista; uma mais voltada à direita, outra mais voltada à esquerda.

Agora, com a mudança de governo, o presidente eleito terá a tarefa da construção de um novo modelo político para o Brasil e atrelada a isso virá uma escolha diferente de prioridades. É da índole da esquerda ter uma Estado mais presente na condução da vida cotidiana. E isto é o que se deve esperar doravante: uma ênfase nas questões sociais, no respeito às minorias, no fim dos preconceitos, na valorização da cultura e educação, além de uma saúde social, mais presente nos municípios do país.

Contudo, a prioridade zero, disse Lula, será trabalhar para combater a fome que campeia em todo o país – uma tarefa nada fácil neste momento, porque o gasto feito pelo governo na campanha derrotada penalizou fortemente os cofres públicos e a retomada do crescimento será árdua e sacrificante – aliás, ela seria de qualquer modo fosse qual fosse o vencedor.

— Leia também: Domingo vem aí

Por isso, findo o pleito, o que devemos pensar é o que será deste país e de todos nós nestes quatro anos de lulismo que se seguirão. É importante esperar que derrotados não devem servir para criar obstáculos ao desenvolvimento, seguindo a máxima de quanto pior, melhor; por outro lado, vencedores não devem subjugar os vencidos, ou relegá-los a uma posição humilhante, só porque não venceram e bastam a si mesmos. Os dois brasis agora precisam ser um, esquecendo o antes e pensando no amanhã.

E aqui está a maior dificuldade, simplesmente porque, mágoas políticas não são esquecidas facilmente. Um inimigo vencedor não perdoa, assim como um inimigo perdedor nunca esquece. Assim, unir o país e o povo será uma tarefa hercúlea, mas fundamental para o progresso da nação e o bem estar de todos nós.
A reconciliação é o único caminho capaz de dar tranquilidade ao nosso país, para que todos sejam vencedores na vida econômica e social de nossa pátria.

Por isso, como já disse em outro artigo, há que imperar o bom senso. O legislativo – Câmara e Senado – está majoritariamente nas mãos de Bolsonaro e isto pode inviabilizar a aprovação de projetos e leis. Contudo, o bom senso, como disse, deve saber filtrar o que é necessário e o que é apenas marketagem política, mas impedir que o governo tenha dificuldades para governar em nome de uma revanche das urnas, não deverá ser tolerável.

Bolsonaro continuará liderando seu grupo político e atuando para seus 58 milhões de eleitores, mas terá que mostrar grandeza em questões que forem propostas cujo objetivo é minorar a dor dos brasileiros, afinal, seus 58 milhões também serão beneficiados com as medidas de Lula para a criação de mais empregos, melhorarias na educação e na saúde, assim como todos sofrerão por desabastecimento com paradas de caminhoneiros nas estradas e ações de violência, como Jefferson e Zambelli.

Neste particular valeria se o presidente fosse mais explícito e dissesse que as paralizações de estradas deveriam acabar. Todos estão sofrendo, inclusive bolsonaristas. Aliás, dois cantores sertanejos que apoiaram o presidente tiveram seus shows cancelados e doentes já começam a ter falta de insumos e as diálises estão em risco.
Sem um mínimo de consenso em torno de um mesmo ideal, ou de uma ação conjunta, o Estado tem a perder e o povo também.

Ressentimentos ou soberba, quando redundam em negacionismos, não levam a nada de bom. Daí a necessidade do diálogo, mas não aquele diálogo que se resume em mera retórica, e sim um diálogo produtivo, onde ações comuns possam ser implantadas no novo governo que se inicia.

O Brasil não pode ficar estagnado, nem para lamentos e nem para glórias vazias. O momento exige apoio em todas as ações e obras que caminhem para o bem comum porque elas é que tornarão possível o crescimento do país.

É fundamental entender que a eleição deve pôr um fim na euforia da vitória e na melancolia da derrota, é fundamental também fugir dos revanchismos e perseguições.

Afinal, é como diz a canção de Moraes Moreira: “Lá vem o Brasil descendo a ladeira” e este país, o nosso país, precisa de muito trabalho, criatividade e paz para completar sua caminhada, descendo a ladeira rumo a um novo amanhecer.

Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante

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