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Todos ficaremos velhos

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Há muitos anos, na antiga TV Tupi, vi uma entrevista de uma senhora que cuidava de idosos. E, meio que entre as lágrimas, ela desabafava que as crianças tinham apoio da sociedade, mas os idosos não.

Pois bem, este quadro não mudou. A começar pelo governo que trata muito mal seus idosos, como que esperando que morram logo para que o INSS tenha uma despesa a menos. Basta ver como é tratado o provento das aposentadorias.

E olha, os aposentados somam 30 milhões, praticamente 15% da população brasileira. Um descaso com uma massa de grande peso político, o qual precisaria arregimentação apenas. Se uma cabeça dos tais idosos tivesse a criatividade de um Elon Musk e pudesse ajudar, os tais velhinhos poderiam colocar e tirar políticos no poder com grande facilidade.

»» Leia também: Entrando na corrente

Contudo, justiça seja feita, nem todos os políticos têm a mesma cabeça pequena. Semana passada no Antena Paulista, vimos uma matéria deslumbrante da cidade de Barueri: um parque dos idosos.

Uma área inteiramente voltada à terceira idade. Esportes, bailes, refeitório, massagem, atividades culturais, jogos de salão, cursos, palestras, num espaço que permite a frequência de 1.000 pessoas por dia!

Em outras cidades existe uma espécie de “creche” para idosos. Os “velhinhos”, ou nem tanto, afinal a partir de 60 anos não se pode falar mais em velhos com a medicina moderna, vão eles para lá pela manhã para saem à noitinha.

Dentro das creches, as mesmas atividades: ginástica, cursos, palestras. Enfim, o convívio dos iguais, como na sociedade em geral, o que seria profundamente justo, afinal estas pessoas geralmente são segregadas, às vezes, pela própria família.

O idoso hoje é tratado como uma “coisa” que já cumpriu sua função socioeconômica e nada mais pode oferecer ao desenvolvimento do país. Está na fase, diríamos de “tchau”. É como se fosse um “rest in peace”, “but very hard”, ainda em vida.

É tristíssimo. Se a juventude – não os de 16 ou 18 – mas a juventude de 30 a 40, ou até pouco mais, prestasse mais atenção a eles, entenderia que a melhor forma de sucesso de uma sociedade é a força dos mais novos aliada a experiência dos mais velhos.

É assim que funcionam as tribos indígenas, os esquimós, ou em países asiáticos, onde o peso das pessoas de idade não é pesado, isto é, eles são ouvidos, cuidados e respeitados.

É preciso, claro, seguir os exemplos de Barueri, e outras cidades, contudo, mais do que isso, é preciso uma mudança de mentalidade a respeito de quem são os mais idosos e o que eles representam e podem contribuir.

Na minha opinião devia ser uma questão de educação social e escolar. Não são fardos pesados a serem suportados com gracinhas e descaso. Toda geração, na escada do progresso, está pisando nos degraus daqueles que construíram esta subida antes, para fazerem degraus que as futuras gerações irão pisar.

Só que os pedreiros de hoje, se esquecem dos pedreiros de ontem, e de forma idiota, porque serão os esquecidos de amanhã.

Isto me faz lembrar uma história que há muito li. Num local distante, as pessoas velhas eram levadas para morrer numa montanha fria e isolada. Um dia, um filho levou o pai para lá como era de costume geral. E, por piedade, deixou uma manta para que o velho sentisse menos frio.

O pai, então, lhe disse que cortasse a manta e só lhe desse metade. O filho indagou o porquê daquilo. E o pai respondeu: “Para que você use quando for a sua vez de ser largado aqui”. O filho, então, levou o pai de volta e a odiosa prática daquela comunidade chegou ao fim.

É preciso que aqueles que estão deixando os mais velhos como um entulho à deriva, levem em conta que todos ficaremos velhos, e o entulho logo, logo serão eles mesmos.

Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante

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