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Um 9 de julho para louvar o retrocesso

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Por Zoel Garcia Siqueira

No momento em que o país debate estarrecido o assassinato de um petista em sua festa de aniversário, por um bolsonarista, Guarujá cria o ‘dia dos colecionadores, atiradores desportivos e caçadores’ (cacs), 9 de julho.

A lei, apresentada por um vereador republicano, aprovada pela câmara, sancionada pelo prefeito tucano e publicada no diário oficial do município de terça-feira (12), revela um país desnorteado na violência.

Os tais ‘cacs’, que proliferam nas cidades brasileiras, refletem a mentalidade do armamento civil que tomou conta do país com o advento do bolsonarismo e que tantas desgraças têm trazido a muitas famílias.

O mais curioso dessa lei é a palavra ‘caçadores’. Onde haverá caça em Guarujá, um município praticamente sem zona rural? Que animais serão caçados? Atividades desportivas? Ora, pelo amor de Deus, parem.

Os problemas e a crise que atingem a cidades do nosso país passam muito longe de ser resolvidas com o uso de armas, seja de forma recreativa, competitiva ou de abate. Precisam de outras medidas e soluções.

O que o Brasil necessita é de políticas públicas de caráter econômico, social e educacional. É de incentivo ao desenvolvimento, à soberania nacional e popular. Mas isso infelizmente não está na pauta.

A importância dos legislativos municipais decai com essas leis banais e indignas. O serviço público existe para melhorar a vida dos menos favorecidos e não para fortalecer a indústria das armas.

Até 2022, o feriado de 9 de julho na ‘pérola do Atlântico’ celebrava apenas a derrota do povo paulista pelas tropas federais de Getúlio Vargas na chamada revolução constitucionalista de 1932.

O estado mais importante do país foi derrotado pelo governo revolucionário de 1930 porque sua elite não aceitou a derrocada da política do ‘café com leite’ que mantinha com Minas Gerais.

Apesar de perder o conflito armado, São Paulo considerou vitoriosa a dita revolução porque Getúlio convocou uma assembleia nacional constituinte que os paulistas passaram a chamar de sua.

Na verdade, o astuto político do Rio Grande do Sul, vitorioso, estendeu a mão à elite paulista e nomeou um de seus representantes, Armando Sales de Oliveira, para comandar o estado até 1936.

Polêmicas históricas à parte, o interessante é o novo 9 de julho do Guarujá, quando se passa a louvar as armas, os tiros, a caça desportiva, o empobrecimento cultural e espiritual.

Pobre data, primeiro enxovalhada pela casta econômica que tentou manter, a ferro e fogo, os privilégios do oligopólio agrícola e pecuário dos dois maiores estados da recente república.

Agora, pela obra de políticos conservadores provincianos da nossa importante e bonita cidade litorânea, o famoso dia do sétimo mês representa também a farsa da segurança. Na verdade, um perigo para o povo.

Zoel é professor, formado em sociologia e presidente do Sindserv (sindicato dos servidores municipais) Guarujá

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