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Um texto diferente

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Olá, leitor amigo.

Hoje meu espaço está com um texto diferente – um poema. Quem não gosta deve virar a
página agora. Mas sempre vale a pena ler.

É um desabafo de quem está com o saco cheio de tantas promessas, tantas pessoas dizendo
que o futuro será melhor e que o importante é só continuar andando, andando, andando…
Desde pequeno, escuto que o Brasil, será o país do futuro. Mas quando vai chegar esse tal
futuro, e para qual geração? Então vamos lá!

E depois de tanto andar
Mais um passo?
Chega. Não quero, pra quê?
Quero ficar aqui, fincado.
O tempo tem sido injusto.
O presente pesa, o passado ainda é leve
Pela memória.
Cada passo puxa o tempo e aumenta a carga
Com isso o presente já pesado pesa mais.
Minhas dores são mais, tudo dói
Menos a lembrança do passado.
Então pra quê mais um passo,
Se o presente já é pesado?
Me nego a dar mais passos para buscar sei lá o quê.
Acumulando peso de um futuro que é insípido
Nem chegou, por isso, indolor.
A obesidade da vida dói mais do que a do corpo.
Nela cada passo é gordura para qual não há regime.
Além da dor dos músculos, das articulações,
Agora lentamente vem o peso
Deixado pela memória que esmaece
Não, não, não,
Não quero!
A caminhada já foi longa, foi boa,
Sorrir, viver aventuras, desafios até começar a pesar
De lá até aqui, o suor de carregar a
Carcaça
Só compensava porque a lembrança era leve.
Agora a lembrança começa a ir embora
Me deixando sem a leveza da memória
Que diminui.
E aí sobra mais e mais peso
Na mente também cansada de agendar
Mais passos.
Andar até quando, até onde, por quê?
Pra ver ali na frente o que já vi lá atrás.
A alegria do viver veio dar no peso da vida
Presente. E ela pesa.
A vida que me levava, agora

Exige que eu a carregue.
Será uma vingança?
A vida obesa e todos os seus sinônimos
que me cabem:
anafado, barrigudo, adiposo, balofo, cheio, corpulento, farto, gordo, gorducho, rechonchudo,
rotundo, abdominoso, bojudo, buchudo, e mais…
Cantam nos ouvidos que não ouvem mais tão bem.
Já foi bom, tudo já foi bom,
Antes.
Mas agora
Quero parar, sentar, deitar, escrever, ler
Amar e ser amado, rodear-me dos meus
Acompanhar os passos da minha descendência
E da descendência de minha descendência
E ajudar, afinal
Quem deu tantos passos
Sabe os pedregulhos da caminhada.
Ou apenas ficar em meu canto, cantando ou declamando,
Quero mais ouvir, do que falar.
E encantar-me com uma nova maneira de ser:
Qual seja, não dar mais passos,
Apenas saborear o que já andei
Como quem degusta uma taça de bom vinho
Que não está no próximo passo,
mas no agora, no já.
Com essa taça fico leve,
Não ando e finalmente posso
Voar.

Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante cristão.

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