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Verdade, onde está você?
Com a proliferação das mídias sociais, um fenômeno de comunicação ocorreu. Ora, você pode me dizer que todos sabemos disso, já há muito tempo. Pois é. Claro que todos sabem da democratização da “informação”. Mas este é o problema atual do fenômeno, que informação recebemos? A certa? A errada? Ou muito pelo contrário?
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Num espaço sem dono de mídia aberta em quem acreditar, afinal, qualquer um fala o que quer, o que sobra para o receptor? Isto é, para nós, a maioria. Como acreditar na veracidade daquilo que se lê, se ouve, se vê, já que tantos falam e tantas coisas conflitantes são despejadas simultaneamente no ar?
Talvez a tranquilidade ideal esteja no pertencimento. Ironicamente, uma boa. Pertencer a um grupo “falante” que possui ideologia, partidarismo, opiniões viciadas, enfim, ficar dentro de um time, que seja de esquerda, ou direita, ou centro, ou seja do caos, ou da esbórnia, seja lá qual for.
Porque “pertencido” (ou dopado) se acredita, naquele do “meu time”, o “guru” que posta a informação. Geralmente é quem tem mais poder de impulso, mais dinheiro, mais apoio político, mais “autorização” para distorcer o fato de modo a confirmar a “nossa” ideologia, aquela dos “afins”, companheiros de luta, e que tenha mais quantidade de postagens.
Teóricos da comunicação costumavam dizer que a quantidade gera qualidade. Tem lógica, porque para se sobressair no meio de tantos quem dispõe da competência e for melhor, vence. Talvez tenha sido no passado, e por certo foi.
Contudo, hoje o oposto pode estar mais perto da verdade. É que no meio de tantos que falam, aquele que fala, seja o que for, mas fala, fala, fala, com certeza é quem se sobressai, não importa a qualidade do que diz. Então, quantidade não gera qualidade, mas o contrário, por isso tantos falam e estamos na era daquilo que Umberto Eco denominou, a hora e vez do imbecil. Nem todos são, é verdade, mas muitos insistem em ser.
Certa feita, um poderoso marqueteiro político, disse que, se a realidade não está em consonância com o interesse de quem produz a informação, muda-se a realidade e não a informação (que lhe é útil).
Como? Usando-se um termo muito, comum hoje em dia, cria-se uma “narrativa”. E, se esta narrativa “pegar”, fala-se o que desejar e todos acreditarão.
Curioso, neste caso, como a narrativa é falsa, a informação e tudo o que vier pendurado nela, será igualmente falso.
No fundo, a mídia social de hoje, nada mais faz do que exercer aquela influência que as mídias de comunicação de massa antigas faziam.
A comunicação digital, é o jornal pessoal de cada indivíduo que consegue postar ou replicar informações, até o tamanho do público que se conseguir alcançar. Artistas, pessoas de destaque, possuem milhões de seguidores, coisa que um jornal jamais conseguiria e conseguirá. Rádios e TVs, talvez cheguem a quase, mas nem todas.
Por que digo isso?
Porque a confusão que a doença de Lula está gerando nas mídias sociais é realmente a desinformação escancarada das diferentes ideologias reinantes no “patropi” de hoje.
Afinal quem tem razão? De um lado estão os que duvidam da enfermidade do presidente ou de seu bom estado de saúde. Do outro, os que confirmam o bem-estar dele e sua capacidade de recuperação.
Neste imbróglio estamos nós outros, aqueles que não estão nem lá, nem cá, mas procuram sempre estar do lado da verdade. Só que, quem a tem? Se ninguém a tem não fala o correto, que saberemos nós?
Sou daqueles que acham ser as mídias sociais a maior revolução da comunicação depois de Gutemberg e da transmissão eletrônica. Democratizou-se a possibilidade do discurso. Democratizou-se o emissor.
Mas a verdade, por si só, já é difícil de saber e expressar. Agora, neste amalgamado de verdades pela metade, ou sem verdade nenhuma, como a sociedade vai poder seguir uma bússola? Meias verdades não servem, porque duas meias verdades equivalem a uma mentira completa.
Os fatos que se seguirem falarão por si. Mas até lá… Nosso presidente se recupera bem, ou há muito teatro e maquiagem nisso? Quem teria interesse em esconder a verdade? Grupos políticos? Grupos econômicos? Já vivemos um balão de fumaça triste no passado com outro presidente?
Sim, quem não lembra de Tancredo? Das notícias? E daquela foto dele, sentado, sorrindo no sofá do hospital, com os médicos e com sua esposa sempre companheira Risoleta Neves. Era preciso tranquilizar o Brasil, e ele foi ao sacrifício da foto, apesar de seu estado débil de saúde.
Era março de 1985, e pouco depois, a 21 de abril, Tancredo acabaria indo a óbito.
Com isso tudo, sem sabermos a verdade hoje, quem vai cada vez mais a óbito, é a própria verdade. Um óbito de conteúdos, de caminhos, de luzes no final do túnel, afinal o que queremos é segurança para saber o que será do nosso amanhã;
Então, em nome da verdade, por favor, nos deem a verdade.
Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante cristão.
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