Há momentos em que você se cansa. Do quê? Quase tudo. No fundo, nenhuma estrada, nenhum caminho chegam mesmo ao seu final. Acho que a Terra é redonda por isso, para os caminhos nos fazerem voltar sempre ao ponto de partida. Então, se seu desiderato é caminhar, saiba: você vai voltar.
Chegar a um ponto é uma utopia. E, ironicamente, o motivo pelo qual você começou a caminhar já não existe mais, passado algum tempo. Tudo mudou, porque mudar é mister. Aliás, a única coisa que não muda é a mudança, que sempre muda. (Leitor, leitora! Pensem um pouco nesse jogo de palavras e esquente a “cuca”!)
O mundo muda ao piscar dos olhos e o que foi já não é mais; o que seria chegou sem que você estivesse preparado para recebê-lo e logo já será passado que o hoje nem sempre entende.
Desta forma, você pensa que o jeito é não ficar obcecado pelo fim, mas sim, se encantar com o caminho. A chegada, se der, será fortuita. Legal, vamos lá!
E os encantos da vida se tornam exatamente os passos. A vida é sua companheira de viagem. O que está lado a lado com você é que torna a caminhada um prazer. Tô feito !
Só que, um certo dia, você também fica com sobrepeso daquilo que vê. E enjoa. A companhia já não basta, a beleza da paisagem, as novidades que já não são novas, enfim, cada passo é igual ao passo anterior.
Se você buscava algo, queria saber de algo, queira desvendar os mistérios (Uau!) prepare-se, aquilo que você sabe, que você aprendeu é exatamente aquilo que sabia , que viveu, e, na busca da surpresa, seus pés se esfolaram no chão empedrado da estrada que nunca termina, porque sempre volta.
Assim, num tempo que ninguém pode prever, um dia o seu hoje se torna um déjà vu. O maçante repeteco do que já foi vivido, do que já foi ouvido, do que já foi falado, do que já foi visto e o seu amanhã começa a ter a forma do ontem porque o hoje não oferece mais nenhuma oportunidade de ser ligeiramente diferente.
Acontece com o amor. do mesmo lugar comum; com o mar, das ondas exatamente iguais; enfim, com o sabor da vida que já foi vivida.
Talvez tudo isso dê a você a certeza de ter conhecido o que o conhecimento poderia oferecer, mas é uma falácia. Sócrates disse certa feita “ Só sei que nada sei”, e isto torna todas as palavras inúteis, todas as cenas, tudo o que há, porque nunca é possível – nem provável – apreender aquilo que queremos saber, daí aquele nó na garganta de que sempre falta alguma coisa com você apesar das andanças…
O conhecimento de cada um é apenas o conhecimento de um, ou apenas um conhecimento, embaralhado em meio a tantos conhecimentos que enchem, as prateleiras das bibliotecas, ou os pendrives , ou os arquivos dos computadores , que se alojam nas nuvens tecnológicas, as quais talvez possam ter, em última instância, todo o conhecimento acumulado.
Somente a IA decodificou todos os conhecimentos e se tornou capaz devolver a você rapidamente e de maneira perfeita, aquele conhecimento, ou aquele outro, mais outro porque nela está o ur-conhecimento, a totalização do saber possível neste tempo/espaço que chamamos de agora.
Mas nunca poderá lhe dar o conhecimento dos muitos uns que caminharam sós, que pensaram sós, e por isso nada sabem dos outros uns, apenas de um, que neste caso é você mesmo e mais ninguém (Os que andam sós são solitários, mas nunca solidários…)
A única coisa que muda é o espelho, porque quando você olha, vê não mais o mesmo você. E este você talvez seja a coisa que mais cada qual ouse dizer que conhece. U saber único, somente seu, de mais ninguém. Uma posse talvez de uma sabedoria exclusiva, isto é, eu sei de tudo isso que vejo no meu espelho.
Mas acaba sendo pouco para quem já fez longos percursos. De outra parte, se aquilo que vê no espelho, você desconhece, então, xiii…
Então xiii, xiii … mas o que é isto? Lá estou eu andando sozinho de novo. Não mais, chega! Fui, voltei, andei e não saí do lugar nem mesmo nestas linhas. Ah, que ”sifu”. S’mbora, tô com saco cheio, de novo. Tchau!
Sérgio Motti Trombelli
é professor universitário e palestrante cristão
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